quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Política Externa: Irã

Abaixo um video do Jornal Nacional sobre o Irã. Em seguida um texto do Reinaldo Azevedo onde ele comenta o vídeo e analisa a política externa brasileira.





AS DUAS MORAIS QUE AMORIM TEM E A QUE ELE NÃO TEM. OU: ELE QUER É BOMBA!
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010 | 5:37
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

No dia 22 de junho do ano passado, Celso Amorim fazia um comentário sobre a situação de Honduras e as sanções econômicas àquele país:
“É preciso que compreendam [referia-se ao governo Micheletti] que eles têm que sair, que estão apenas retardando sua agonia, porque eles não têm condições de ficar. Com prejuízo para o povo hondurenho que vai sofrer se eles não saírem logo, à medida que essas ajudas sejam cortadas, que comece a faltar dinheiro para pagar o funcionalismo.”

No dia 7 de julho, o governo democrático de Honduras continuava firme, e Amorim concedeu uma entrevista a Deborah Berlinck, de O Globo, em que VOLTOU A DEFENDER SANÇÕES. E explicou por que queria punir aquele país, mas era favorável ao fim do embargo à Cuba: “Cuba foi uma revolução, enquanto Honduras foi um golpe de Estado típico de uma direita que não tem mais lugar na América Latina”. Entenderam?

Agora vejam o vídeo abaixo, extraído do Jornal Nacional, em que Amorim volta a falar sobre sanções. Só que, agora, ao Irã [vídeo do JN acima].

Celso Amorim tem adquirido uma certa palidez que eu espero seja apenas cínica, não clínica. Parece bem de saúde. Tal aspecto só pode ser conferido mesmo por seu caráter. Como se nota, quando um país é governado por alguém que Amorim acha “de direita”, ele defende sanções e acha que o povo pode pagar o pato. Quando é um governo de esquerda ou quando é uma tirania teocrática, coisas que ele aprecia, então se enche amor pelos pobres. Tenho receio de gente que é incapaz de corar.

Eu vou sempre insistir neste aspecto: o apoio do Brasil ao Irã é, em si, uma boçalidade, mas é também incompatível com os esforços de sete anos para ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Ora, quem vai confiar numa diplomacia como essa?

A hipótese benevolente e, a meu ver, remota é a de que, agindo assim, Lula e Amorim estão atraindo os holofotes para o Brasil, e isso seria mais uma evidência da relevância do país etc. Mas a estratégia seria tão tola que não pode ser levada a sério. Amorim é desastrado, incompetente, contraproducente, mas, evidentemente, burro não é. Guardem estes textos sobre o Irã num arquivo qualquer. Um dia saberemos o que se esconde por trás ou por baixo desse alinhamento absurdo.

É PRECISO QUE SE DESTAQUEM DUAS COISAS QUE PODEM SE PERDER NESTE IMBRÓGLIO:
a) o Brasil está defendendo o “direito” de o Irã enriquecer urânio e
b) está se opondo às sanções da ONU.

No vídeo acima, o Megalonanico aproveita para fazer demagogia: sanções só prejudicariam os mais pobres. Se isso é uma sentença definitiva, então há de se supor que elas não devam mais integrar o repertório de retaliações possíveis no concerto das nações. Pois bem, sendo assim, e dado que o Irã não aceita negociar, o que resta então? A resposta é óbvia.

O mais escandaloso na fala de Amorim, como se nota acima, é que ele FOI O MAIS ENTUSIASMADO DEFENSOR DA APLICAÇÃO DE SANÇÕES CONTRA A POBRE HONDURAS. O Brasil liderou a grita para isolar aquele pobre país. E o que faziam os hondurenhos? Apenas davam sentido prático à sua Constituição democrática.

A leniência da imprensa brasileira com este senhor, guardadas as exceções, é asquerosa. De certo modo, ela tem culpa no cartório. Entrou no barco furado do suposto “golpe de Honduras” e passou a ser porta-voz de uma diplomacia que, a cada dia, alcança baixuras novas. UM DIA HAVEREMOS DE NOS ESCANDALIZAR COM O FATO DE QUE AMORIM FOI UM DOS PATROCINADORES DE UMA CONSPIRAÇÃO QUE TENTOU LEVAR A GUERRA CIVIL A HONDURAS.

Fiquem atentos à leitura dos jornais. Não será difícil identificar as e os colunistas abduzidos por toda aquela porcaria teórica que hoje se produz no Itamaraty em nome da autodeterminação dos povos. Não se esqueçam de que essa gente, há dias, resolveu hostilizar o trabalho dos EUA no Haiti na suposição de que o Brasil poderia comandar o trabalho de socorro imediato a um país devastado. Fazia proselitismo e produzia antiamericanismo rombudo sobre 200 mil cadáveres.

Imaginem o que não estão pensando do governo brasileiro neste momento alguns líderes que chegaram a confundir a força da nossa economia, que depende pouco da vontade de Lula, com maturidade de sua diplomacia para participar dos grandes embates mundiais — e isso depende muito de Lula. O fiasco está aí; está dado.

Se as sanções forem eliminadas do cardápio de medidas, como quer Celso Amorim, então só pode restar mesmo a guerra.

Proselitismo
O mais assustador nessa loucura é que o raciocínio do Megalonanico ou conduz à guerra ou conduz à bomba. Como a guerra ele não quer, então ele quer a bomba. Imaginem: armas nucleares nas mãos de uma tirania teocrática, expansionista e terrorista. Saibam que há correntes na diplomacia e no governo brasileiros que lastimam o fato de o Brasil ter aderido em 1998 ao Tratando de Não-Proliferação Nuclear (TNP). A tese é a de que um país só se torna realmente respeitável com armas nucleares.

Comecem aí a fazer a contagem regressiva até que alguém deixe escapar alguma pista a respeito. Na visita de Ahmadinejad, Lula já deu a deixa: se alguns podem, por que os outros não? Mesmo que um dos “outros” seja o Irã.

Atenção! Caso Dilma Rousseff seja eleita, essa linha ora adotada pelo Itamaraty tende a se aprofundar. Como sabem, o Fórum Econômico Mundial concedeu a Lula o título de “estadista global”. Pois é… No discurso lido por Amorim, há lá uma cascata de o Brasil não querer ser mais um dos líderes de um mundo velho, mas uma liderança nova num mundo novo. Se não for literalmente isso, eu certamente melhorei a estrovenga. Hoje, o governo Lula se habilita a ser apenas o novo líder dos delinqüentes de sempre.

Um dia saberemos por quê.

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