terça-feira, abril 27, 2010

Irã - um caso a ser pensado?

POR CONTRIBUINTE, DA "FORÇA POPULAR":

Eu realmente acho que a visão humanitária não serve para nada, pelo menos para entender o caso do Irã. Repete-se que o Irã não pode ter a bomba, que isso seria um absurdo, pois seria uma agressão contra a humanidade. Mas a verdade é que o mundo está entulhado de ogivas nucleares, capazes de explodir o planeta várias vezes. Eu até acho que a principal agenda mundial deveria ser a questão dos direitos humanos, mas os políticos não se preocupam com isso, ou pelo menos empregam suas energias minimamente para isso. Está cheio de genocídios, chacinas, extermínios, torturas em massa ocorrendo pelo mundo, e ninguém dá a mínima para isso. Sem contar as crises humanitárias de fome, aids, malária, êxodos em massa de populações, etc. Os recursos, econômicos e políticos, empregados para combater esses problemas são mínimos, muito menos do que se emprega para tentar conter o desenvolvimento da bomba pelo Irã, porque esse, afinal, é um problema de Israel e, por extensão dos EUA.

O discurso que eles vendem é que os aiatolás são fanáticos, portanto, podem querer destruir todo o mundo. Isso é verdade; poder acontecer, pode, mas, primeiro, quais as condições para isso acontecer? Mesmo que o Irã venha a ter a bomba, Israel tem várias delas e pode retrucar de forma veemente rapidinho. Além do mais, com a capacidade nuclear que temos hoje, as potências chegam a uma condição de empate: desde a Guerra Fria, ficou claro que é impossível ir para o ataque frontal com outra potência militar. Não há incentivo para isso. Por outro lado, há incentivo para cada um se armar cada vez mais, mesmo que nem adiante muita coisa, estocando armamento, para aumentar a capacidade de barganha nas disputas políticas. Pelo menos o mundo ainda não aprendeu que isso também é meio sem lógica.

Segundo, os soviéticos também não eram fanáticos? Os russos nâo são fanáticos? Os chineses não são fanáticos? O Bush não é fanático? A verdade é que mesmo no caso das democracias nucleares, ainda existe um sério risco para todo o mundo de um louco querer usá-las de forma "errada". O extremismo tem voz no mundo todo, e em qualquer país nuclear, um grupo político radical pode ascender. Enfim, dados esses exemplos, minha tese é que, como regra de bolso, mesmo sendo um fanático, um líder não estaria disposto a fazer besteiras, porque restaria a ele uma boa dose de "instinto de sobrevivência".

Hitler é o caso mais lembrado, tanto pela sua expansão militarista, como pelo fato que ele resolveu se auto-destruir no momento em que viu que ele iria perder - logo, nem é tão irracional assim... Lógico que as potências européias da época erraram por terem imposto pesados danos alemães no pós primeira guerra e, no momento seguinte, terem apenas observado a militarização alemã e o início da expansão sem terem se armado em contraponto. Várias explicações podem ser tentadas para entender porque os países europeus agiram dessa forma; com certeza eles tiveram incentivos econômicos, políticos, etc, para agirem assim.

O que eu acho em relação ao Irã é que o mundo inteiro deve peitá-lo sim, mas, uma vez que o problema é principalmente dos EUA e de Israel, os países não nucleares podem conseguir mais benefícios com essa história. Primeiro porque, como citado, a agenda mundial está exageradamente voltada para essa questão do Irã - e de Israel, para variar. Existem mais coisas além disso para disuctir na ONU. A questão do meio ambiente, negligenciada pelo Obama, é só mais uma delas. Segundo, porque os países nucleares querem impedir que os países não-nucleares conseguiam a bomba, mas não fazem nada para desmantelar o próprio material, ou seja, ainda está enraizada a ideia de que quanto mais acumular ogivas melhor, pelo menos o país que assim se portar vai ficar parecendo, e apenas parecendo, mais poderoso.