quarta-feira, dezembro 18, 2013

Texto inaugural da FP

"  Este é o texto inicial da formação da FORÇA POPULAR, uma organização cujo principal objetivo é unir brasileiros comprometidos com o futuro do país, para propormos mudanças por meio de passeatas, cartazes, faixas, jornais e etc. Isto pode ser o parágrafo introdutório de uma folha de papel que ficará perdida em alguma lata de lixo, mas pode ser o início de um movimento popular importante, que possa efetivamente atingir seus objetivos e resgatar o nosso espírito de luta. Por isso só nos resta seguir em frente e buscar apoio para essa empreitada. Aliás, buscar apoio será a nossa principal vocação daqui para frente.

Primeiramente, gostaria de expor o objetivo dessa organização, que pode se resumir naquele axioma conhecido por todos em todos os lugares do mundo: “A união faz a força”. Assim, queremos unir a maior quantidade possível de pessoas, formando, então, um grupo forte e coeso, disposto a incomodar a todos que se encontrem acomodados nos poderes de nossa sociedade. Iremos realizar reuniões para discutirmos e planejarmos manifestações contra o que nos revolta em nosso país.

Percebemos que existem milhões de brasileiros indignados com as diversas situações negativas e mazelas de nossa sociedade, sendo os políticos, não por acaso, os alvos principais de nossas críticas. No entanto, o que é mais espantoso, é que existem poucas manifestações populares nas ruas exigindo mudanças. Nossas conspirações são mentais, individuais. Nos sentimos bem em ficar acomodados esperando a hora de aparecer algum “salvador” para mudar essa situação. Por isso, agora é o nosso momento de agir. Porque não podemos ser o germe dessa revolução? Iremos continuar a invejar franceses, argentinos e estudantes brasileiros dos anos 70, por possuírem a consciência da força e importância do povo para um país? É claro que existem diversas manifestações ocorrendo em nosso país, mas são poucas, tendo em vista os problemas enfrentados por nós. Como dizia H. D. Thoreau, em seu clássico A Desobediência Civil, existem novecentos e noventa e nove defensores da virtude para um homem virtuoso.   Vamos, então, continuar a defender, em nossas cabeças, o futuro de nosso país ou iremos lutar para isso? Fiquemos com a segunda opção e fundemos a FORÇA POPULAR.

Penso em realizar reuniões semanais para discutirmos o foco do protesto e as questões ligadas à organização do movimento. Por meio de todos os portais de comunicações atuais, como orkut, msn, e-mail, tel e outros, iremos formar uma rede compacta de membros com semelhantes objetivos. Cada membro terá o papel de divulgar o projeto e trazer novos membros. Assim, de maneira progressiva, iremos formar um grande grupo, possuindo o contato direto de centenas ou milhares de companheiros dispostos a manifestarem e exigirem mudanças. Os debates servirão para discutirmos o que será o nosso alvo e as formas e meios de protestarmos.

Nosso objetivo não é formar um grupo particular, restrito, mas um grupo com a heterogeneidade característica do povo brasileiro, de modo a defender o interesse de todos e não de um pequeno grupo ou classe. Não objetivamos poder ou fama, nem nos tornarmos um partido político no futuro. Pelo contrário, queremos ser uma força paralela, investigativa e questionadora dos poderes executivo, legislativo e judiciário. 

Essa é apenas uma proposta imatura, que necessita  ser melhor trabalhada e discutida. O próprio nome do movimento é provisório e caso apareça um melhor iremos mudar. Discutiremos todos os pormenores do movimento, escreveremos um manifesto e, a partir daí, começaremos a buscar apoios. Caso queira participar me mande uma resposta e, assim, realizaremos uma primeira reunião para fundarmos de fato essa organização.

     Um aperto de mão"



Fevereiro de 2009



quarta-feira, setembro 04, 2013

Dilma, ações emergenciais e as brechas institucionais



  Chegaram de avião os médicos cubanos salvadores da pátria. Já no saguão do aeroporto, guiados pelo ministro-candidato da saúde, Padilha, as primeiras declarações não deixavam dúvidas: vieram para trabalhar nos locais ermos e pobres, para ajudar em um causa humanitária. Vieram para fazer exatamente o que os brasileiros não querem, por estupidez ou egoísmo - e o melhor, eles ficarão "presos" a esses locais, de modo a não concorrer com os brasileiros nos grandes centros.


         Eu torço para que a Dilma consiga fazer seu programa dos médicos, porém ela governa um trem desgovernado, uma espécie do "governo que não havia lá", ou "o governo que não existe". Torcer não remove montanhas. A trajetória da Dilma e do governo infelizmente não dão esperanças.


       A maioria dos governistas achavam até outro dia que estávamos ótimos - o Brasil estava em um mar de rosas, enquanto o mundo desenvolvido pagava seus pecados. Tudo bem se o governo Dilma não era lá essas coisas, o Brasil já tinha mudado com o Lula, e, de certa forma, ficar “parado” (o governo) já garantiria naturalmente o desenvolvimento brasileiro.


        As manifestações e a guinada na economia mundial parecem ter sido um balde de água fria na cara dos petistas e simpatizantes, ou ao menos obrigou o governo a olhar para o lado e tentar mudar o discurso unilateral e autoritário. O engraçado, porém, na prática política, é a capacidade de distorcer as ideias e os símbolos, ou seja, o governo se aproximou das manifestações de rua, mas sem mudar de fato em um triz o seu modo de governar. É como se o animal petista-brasilienses virasse o pescoço, mas não virasse o corpo de fato, ao grunhido das ruas.

 
     Quem é contra os médicos? É a nova bravata da presidente Dilma. Mas como acreditar em um governo que de fato não existiu? Como acreditar em um governo, que se contentou com seu crescimento vegetativo e não alcançou nenhuma das metas estabelecidas, poder, agora, há um ano das eleições, implementar um programa emergencial que consiga sanar de forma imediata grande parte dos problemas relacionados `a saúde no Brasil? Se uma medida consegue ser eficiente e atinge grande parte de seus objetivos é porque ela  deveria ser alçada a uma política de estado, e não a uma reles “condição emergencial”. Políticas emergências são usadas em catástrofes, desastres inesperados e epidemias, ou seja, situações realmente inesperadas. Situações crônicas de calamidade social, que se estendem a séculos, deveriam ser tratadas com planejamento e eficiência. Se não é o caso, o governo deveria admitir logo que a saúde brasileira vive em estado de guerra permanente (o que não é muito distante, nem desconhecido) e que o programa visa apenas  a "enxugar gelo". Pois o problema dessas medidas ditas emergências é que elas representaram no geral um custo alto (a  estagnação da agenda política e do planejamento do país, e portanto paralisação das outras instituições que não o executivo federal), mas tem efeito inócuo ou pouco representativo na realidade dos brasileiros.

 
       Vejamos o exemplo de um outro programa carro de frente da Dilma desde os tempos Lula, o PAC. Na época de seu lançamento, o objetivo era o de fazer um "choque de investimentos e na administração pública", contemplando medidas a serem tomadas entre os anos de 2008 e 2010, e algumas medidas que teriam efeitos de longo prazo.

        Veja algumas notícias do lançamento do programa `a época:




        O programa era para ser temporário, justamente para realizar algo que se pretende agora, aumentar, como uma medida emergencial, a taxa de investimento público, declaradamente muito baixa e insuficiente para repor adequadamente a infraestrutura do país. Obviamente que era sabido que deveria haver um aumento estrutural na capacidade de investimento do estado, mas o programa se propunha a dar um salto nos investimentos a partir de algumas medidas e obras. O que ocorreu no entanto é que as ações não saíram do papel na velocidade desejada, os efeitos demoraram a surgir, e o programa, que era para ser temporário, acabou se tornando permanente.


         Porque então a Dilma tem a mania de anunciar suas medidas como emergenciais e temporárias? O Minha Casa, Minha vida, também pretendia-se a solucionar, em grande medida, o problema do déficit habitacional no país. Após alguns anos, constatou-se que a maior parte do crédito destinava-se a imóveis de classe média e alta, de modo que o programa estava servindo mais para encher os cofres das grandes construtoras a juros subsidiados. As casas realmente populares são poucas, demoraram a sair, e sendo feitas quase que directamente pelo governo, não são raras as denúncias de malfeitorias e desperdício de dinheiro público


        O ganho político eleitoral de se anunciar o fim do déficit habitacional (ou o fim da miséria, como se pretende agora), no entanto, não tem preço. Adiciona-se a isso grande parte do autoritarismo nacionalista da presidenta e chega-se então `a sua fórmula de governar por bravatas, que acabam com o tempo desmoralizando as ações do próprio governo. Felizmente, o povo brasileiro atem-se cada vez mais `a prática das necessidades do dia a dia, e menos aos discursos ideológicos de seus governantes. (Apenas para ser justo, o próposito inicial do programa, “construir 1 milhão de casa”, 4 anos após o lançamento, foi cumprido, mas para mim ainda não é claro quantas desse total são realmente populares. http://mcmv.caixa.gov.br/numeros/).


        No caso do programa dos médicos, o custo político-eleitorial também é baixo, dada a estratégia dilmista (varguista) de tudo ou nada (ou estao comigo ou contra mim). Na verdade o governo já está lucrando eleitoralmente com a medida, num momento em que as manifestações apenas deram uma trégua. É difícil ir contra a medida; independentemente de seu efeito, ela vai ajudar o Padilha a sair como candidato nas eleições do ano que vem.  Obviamente que os médicos não são a causa do problema, mas são parte dele, assim como o funcionalismo público no geral. Contrapor a classe seria ótimo, se algo fosse realmente feito. Permitir que os médicos estrangeiros fossem para onde quisessem, aumentando a concorrrência nos lugares de maior oferta de trabalho e permitindo a equalização dos salários nas diversas áreas seria o primeiro passo. Médicos cubanos trabalhando para o Brasil e recebendo de Cuba, com restrição completa de escolha de local de trabalho, coexistindo com o regime normal dos médicos, não faz sentido nem do ponto de vista moral, nem econômico (pra começar, esse plano vai sistematicamente trazer mais médicos, ou será enterrado após a campanha do ano que vem?)
  

      O que o Brasil precisa em seus vários setores (inclusive na política) é de mais concorrência, e não da criação de mais regimes de excepcionalismos.


      A Dilma não vê problemas em colocar a população contra os médicos, assim como colocou contra os bancos, contra as empresas, etc...


       Para justificar minha descrença inicial neste governo, vou ficar apenas em dois do que seriam objetivos fundamentais da Dilma (vou pegar leve e nem vou citar a meta principal de “erradicar a miséria”): a política de juros e de investimentos.

    
       A Dilma comprou uma briga com o Banco Central para a redução sistemática dos juros. Não há segredo nenhum disso. A subordinação do presidente do Bacen aos interesses do Ministério da Fazenda, em tese em defesa da produção e emprego em detrimento do controle da inflação, foi um retrocesso (mais económico do que institucional) em relação ao que se tinha no governo Lula. Na prática, o que se tem hoje é que os juros estão no mesmo nível de maio de 2012, o segundo ano do governo Dilma, quando ela começou a forçar uma queda maior dos juros, com uma inflação MAIOR do que antes! Eu me pergunto: de que adiantou afinal esse esforço intervencionista do governo, a não ser para deixar claro para toda a sociedade quem mandava no governo?


       As trajetórias da SELIC e do IPCA nos ultimos anos:




     É sabido também que o efeito das variações na SELIC (a taxa de juros afectada pelas decisões do Bacen) não apresentam efeito imediato e previsível sobre as atividades económicas, sobretudo em relação em relação ao consumo. De fato, a SELIC tem efeito sobretudo na liquidez de agregados monetários mais gerais, próximos `a moeda. O crédito pessoal permanece com juros muito altos, sobretudo devido ao "spread", uma espécie de taxa de serviço, ou mesmo de lucro, paga ao banco. A Dilma comprou outra briga com os banqueiros pela redução do spread e depois estendeu a pressão para toda a iniciativa privada. O discurso oficial era: "os bancos e as empresas lucram muito, mas prestam péssimos serviços e cobram altos juros e altos preços".


     A guerra contra os mal serviços estendeu-se até mesmo sobre as ações e investimentos públicos, comprometendo a licitação de hidreléctricas e de obras em aeroportos, dentre outras, para a iniciativa privada. No geral, o governo considerava as condições da iniciativa privada abusivas, dada a qualidade do serviço. As medidas do governo com esse teor neo-nacionalista atingiu seu ápice no início de 2014 com 2 medidas: o desconto na conta de luz e o congelamento dos preços de transporte público em algumas capitais.


       No final nao mudou nada, só piorou, ainda vivemos no mundo dos juros enormes e serviços calamitosos.   


        Se as medidas no geral tem pouco efeito prático para a população, podem haver alguns malefícios claros: o regime de excepcionalidade que se instala com o discurso da presidente; a face paternalista de que somente a presidente pode solucionar os problemas graves e emergenciais; de que os outros poderes sempre devem sucumbir `a vontade e `a açao do executivo, tal qual um poder moderador. O efeito desse discurso que paralisa a agenda política do país realmente relevante – uma agenda de todos e não exatamente uma agenda do governo – se faz sentir lentamente. O regime de excepcionalidade dos entes privados se dá uma vez que a própria ação pública é emergencial, logo o tratamento diferenciado daqueles que deveriam ser tratados como iguais é inevitável (no caso, as empresas privadas, como aquelas selecionadas a dedo pelo BNDES ou para exonerações tributárias). 


     A ação do governo é sempre pontual e concentradora de renda, além do que sempre restrita – especialmente em um estado concentrado no plano federal como o nosso. Medidas paliativas como as citadas apenas criam duas categorias: os privilegiados ligados `a máquina estatal e os outros, sendo que aos “outros” é mandado importante recado: “Parem de se esforçar pelo país e se esforçem pelos objetivos do governo e para o governo”, o que é prontamente atendido em um país sem tradição meritocrática como o Brasil.


      Vive - se pelas brechas institucionais: falhas legalmente aceitas no sistema político e jurídico, que limitam o desenvolvimento de longo prazo, mas que são potencializadas pelas elites atuais para o atendimento imediato de suas necessidades. Daí institucionaliza-se as brechas, que são falhas na aplicação prática da constituição, abertas pela própria legislação que abre espaço aos operadores do direito e `a sociedade, em inúmeras situações anômalas: universidade gratuita para os ricos, impostos regressivos e sobre itens de consumo básico, intervencionismos em órgãos que deveriam ser independentes, como o Bacen, além de órgãos de controle da administração e ambientais, além de toda a discricionariedade juridicional em favor dos ricos - são comuns prisões arbitrárias aos pobres e recursos infinitos somente aos ricos, etc.
  
         
          As propostas apresentadas são discutíveis. Não tenho a pretensão de propor uma solução única e definitive para o Brasil. Alguns objetivos no entanto são quase consensuais, inclusive estabelecidos em lei. É louvável por exemplo de se reduzir a pobreza ou a desigualdade. O problema é que esse quadro se deve a uma simetria de direitos entre a população, o que os economistas chama de igualdade de oportunidades, daí se incluindo tanto os direitos fundamentais, legalmente estabelecidos, quando daqueles advindos de um inserção real e mais completa,  abrangendo uma igualdade política e cultural.


        Ora, o discurso de excepcionalismo age exatamente contra essa igualdade, pois cria mais regimes diferenciados e atua contra  toda a igualdade plena (que inclui a liberdade de todos), que só é válida se institucionalisada horizontalmente, para todos.


         Os melhores feitos dos governos no Brasil provavelmente foram feitos com base nesse discurso, assim como os piores. Adiciona-se a ele a “doutrina do brasileiro genuinamente bom e cordial”, hipocrisia fundada pelas nossas elites promíscuas desde os tempos coloniais para disciplinar o povo e aceitar a dominação. Repito então o raciocínio: com base na doutrina do brasileiro cordial e da emergencialidade da situação, os politicos fizeram as melhores coisas, e as piores coisas. Não se trata de questionar as medidas em si aqui, mas de analisar um modus operandis, que me parece muito mais revelador, e se ele de fato está nos levando a um desenvolvimento real.


        O Brasil é um país com instituições sólidas e talvez o tempo já seja suficiente para o país evoluir naturalmente. Porém, talvez também isso ocorra a uma velocidade menor do que seria "aceitável", o que não é bom, especialmente se estamos considerando a situação emergencial. Além disso, o problema mundial da democracia ainda nem repercutiu direito aqui, para além das manifestações de junho. Somente quando resolver seus problemas antigos o Brasil estará apto a pensar em uma Nova Democracia.


       O desafio brasileiro, por isso mesmo, é ainda maior: garantir as condições básicas da população, que deveriam ter sido atendidas a décadas, ou séculos, sem prejudicar ou coibir as instituições democráticas que deveriam funcionar na Nova Democracia – é esse o atalho que a presidenta Dilma parece insistentemente querer pegar.

     * MAC

terça-feira, julho 16, 2013

Três ensaios sobre a manifestação

*  Thiago Oliveira 



Ensaio 1 - Da Etimologia.

manifestação
(latim manifestatio, -onis)


s. f.

1. Acto de manifestar ou de se manifestar.

2. Expressão, revelação.

3. Demonstração pública dos sentimentos ou ideias dos membros de um partido ou de uma coletividade.

4. Conjunto de pessoas reunidas publicamente para mostrar ou defender determinadas ideias ou posições.


manifestar 

v. tr.
1. Tornar manifesto, patentear, publicar.

2. Dar indícios de.
3. Expor, apresentar.

v. pron.

4. Declarar-se.

5. Aparecer.

6. Tornar-se visível, descobrir-se.





Entre os 10 significados listados justamente o último é o que melhor explica as atuais manifestações no Brasil. Claro que há múltiplas demandas, afinal temos um governo gigante que fornece suas tetas majestosas para os políticos e servidores públicos. Mas, o principal propulsor desse movimento é a necessidade de um povo que é impotente em relação às decisões políticas se expressar. 

O corolário da corrupção são serviços públicos de péssima qualidade.

O paradoxal nisso tudo é que o cidadão, embora saiba que não pode confiar em seus políticos, demanda a estes mesmos políticos mais serviços. Ou seja: Quando pedimos passe livre estamos pedindo para o governo aumentar seu nível de gastos e esquecemos que são nossos próprios impostos que financiam esses gastos, esses roubos. Esse paradoxo é um fato estilizado nas ciências políticas, não estou dizendo nada de novo.
O senso comum, em síntese, tem ojeriza à economia de mercado, e demanda um Estado maior, ao mesmo tempo em que sabe que quanto maior o Estado mais corrupção.
As regras estão postas e são bastante simples de entender, porém difíceis de solucionar. Todavia, parecemos não querer discutir as externalidades dos mercados e dos políticos, só assim poderemos equacionar esse problema de forma a minimizar os custos desse processo, que evidentemente se apresenta dificultoso. 




Ensaio 2 - Da Marcha.

Irmãos, vamos ir com mãos entrelaçadas.
Fechem os olhos e olhai uns para os outros,
Pois só sem ver que se vê alguém mais.

Que suas bandeiras deem as mãos a cada balançar.
As causas são muitas, mas menos que as vozes.
Os gestos confusos, mas, se o caos está instaurado,
Um pouco a mais de desordem irá atrapalhar?

Marchem mensagens de paz e justiça.
Leve vinagre e revide não.
Com quanta paz se constrói uma canoa?
Com quanto amor se reinventa uma nação?





Ensaio 3 - Da Gestalt, Entropia e Caos.



Quando a multidão se encontrou percebeu que não é a soma das partes que faz o todo, mas, inversamente, que cada um ali presente estava sendo totalmente definido por aquele ambiente, aquela energia. Não havia uma única causa que fizesse cada indivíduo estar ali presente, e, por isso mesmo, o grupo não poderia ser definido à partir da agregação dos sentimentos individuais de seus componentes. Na verdade nenhum grupo pode, mas isso se tornou mais evidente nas manifestações que têm ocorrido nos últimos dias.
Mas o que fez a multidão se reunir?
Minha interpretação é que tínhamos um sistema com entropia altíssima e necessitando apenas de um pouco mais de energia para gerar uma desordem completa. Um pequeno aumento na passagem do ônibus, nesse contexto, pode ser suficiente para que o sistema entre em caos. Todavia, isso não é por si só suficiente para afirmar que o sistema não vá voltar logo para o equilíbrio, sem nenhuma modificação, aliás é essa a tendência. 
Até o momento não há nenhum elemento que subsidie a possibilidade de crescimento e organização desse movimento. Por mais bela que seja a manifestação, é muito difícil imaginar que se colham frutos nessa empreitada. Profundas mudanças no Brasil só irão acontecer com décadas de lutas e reivindicações, com melhoria do sistema educacional público e com a ascensão de uma nova classe de políticos, que maximize o capital social e não o capital político. 
Enfim, viver é melhor do que sonhar.
Mas sonhar é preciso.



sábado, junho 29, 2013

A revolução dos 20 centavos do século 21


Por Marcelo*

   Os ganhadores e perdedores das revoltas populares das últimas semanas ainda não foram descobertos, mas são certamente da classe política predominante e dos poucos clãs que controlam os maiores partidos, PT, PSDB e PMDB. Os petistas mais radicais parecem querer frear o movimento, depois de tê-lo atacado desde o início, como se a massa estivesse sendo manipulada por forças ocultas (da elite, da direita e da mídia...). A versão da esquerda é praticamente o discurso atualmente reconhecido na direita brasileira, quer seja, considerar o povo ignorante como uma simples massa de manobra de alguns políticos populistas. No socialismo do século 21, muitas vezes a esquerda  prefere arrefecer os ânimos do que correr o risco de uma virada de mesa que beneficie a direita, ou mesmo parte da esquerda divergente. Os petiscas amigos da "burrocracia" nao querem radicalizar e não acreditam na esquerda radical.


    Ainda bem que na revolução do século 21 nao é necessário guerra além do "teatro", o "filme" contado pela televisão - desconsiderando que as bombas e as 3 mortes tornaram o ambiente de guerra ainda mais insuportável para além das telas, o fato é que o poder da televisão e da internet é de catalisar e acelerar pequenas mudanças e fatos que antes passariam despercebidos pela maioria. Não se precisa no século 21 tomar o congresso ou cortar as cabeças. Mostrar que a capacidade e a possibilidade, simbolicamente, já é suficiente para o povo da democracia moderna da era da informação em alta velocidade. A revolução feita dessa forma se impera de forma ainda mais rápida e impactante, pois todas as escolhas sao feitas intuitivamente e instantaneamente pelo movimento-povo, que quer mostrar que tem o controle, embora admita ser fragmentado. A minha visão é positiva: de quem vê as manifestações como um sinal de vida da nossa democracia. O povo quer parecer que sabe o que faz e até onde faz, e que pode controlar possíveis dissidências fundamentalistas, que não quer uma instabilidade maior que um certo nível que possa ameaçar a governabilidade a longo prazo. A classe média conservadora, achatada pelos altos impostos e poucas facilidades do governo, é quem no final das contas mostrou a força e foi para as ruas gritar - com um pé atrás naturalmente.


       Essa espécie revolução instantânea (de fato, os protestos já diminuíram bastante) é possível porque esse movimento é virtual, no sentido que parte do inconsciente coletivo das pessoas, e não de situações e personages reais. Problemas gerais são catalisados e depois se dispersam em uma infinidade de manifestações. Corrupção, inflação, transportes são questões gerais mas também dizem respeito ao âmago da nossa institucionalidade. Os brasileiros podem ter inconscientemente chegado `a conclusão de que o problema brasileiro é estrutural e não pode ser mudado de forma paliativa. A descrença em relação à base da política não é invenção brasileira, pelo contrário, chegou até nós atrasada. O efeito Lula de certa forma escondeu o movimento que ocorria, e o que se viu foi uma fusão dos movimentos pela democracia ao redor do mundo e movidos pela tecnologia  de informação (leia-se twitter e facebook) com o neopopulismo brasileiro, que parecia imune a tudo.


        No mais das vezes, trata-se de situações relatadas de forma indireta, e portanto deturpada, pela tv ou outros meios. Na revolução do século com informação a alta velocidade, o povo em seu conjunto democrático faz rapidamente as escolhas e desenha rapidamente os cenários, calcula-se quase de forma instantânea as perdas e ganhos da ação e toma-se uma atitude. Ou, devido a dificuldade de se mudar as coisas, chega-se a um impasse ainda mais frustrante e intransposnível do que parecia antes. Apesar dessa boa vontade, é difícil acreditar que o povo tenha mesmo uma identidade racional para escolher esse ou aquele projeto. Pelo contrário, o povo parece simplesmente guiado pelo sentimento de revolta, de quem sabe se sabe violentado e humilhado. E esperança reside exatamente nisso: a possibilidade do povo ter entrado em sua "maioridade",  de ter chegado `conclusão que a doutrinação imposta não lhe cabe mais.


     Nesse momento, volta-me a cabeça a ideia do "povo bom" - o povo brasileiro genuinamente cordial - ou o povo da não violência. O movimento povo exala pacificidade, que contrasta com a longa historia de descaso a que se sujeitou pelas elites que, pelo contrário, sempre abusou da violência. O povo, na linha do Sergio Buarque em Raízes do Brasil, foi doutrinado para não ser violento. O povo brasileiro jamais considerou que a violência fosse a solução, mesmo nas condições mais miseráveis, raramente percebe-se no brasileiro normal um ódio ou raiva que o leve ao confronto físico e mortal (ou mesmo a uma confronto moral, ou uma aversão política que dividisse a sangue o país) ao longo de um período razoavelmente longo. O ódio e a energia agressiva do brasileiro nunca se dirigiram especificamente `as elites ou a uma figura específica (p.e., os EUA, os estrangeiros, etc) . O povo brasileiro quando briga faz como um suspiro de alivio ou desabafo - são brigas de bar, entre casais e devido a armas despejadas nas mãos de adolescentes nas favelas... Quem contra argumentar dizendo que nossa violência é maior que na Palestina desconsidera o fato de que também nossa desigualdade social soh é comparável ao de Serra Leoa. Não quero entrar no mérito da culpa pela nossa extrema violência, mas ressalto que o povo brasileiro no geral é extremamente pacífico e humilde, quando não entre o ferro e o fogo. O povo pode ser malandro, mas não ruim ou frio no sentido estrito - o que no final das contas é a nossa forma de perversidade e de hipocrisia.


        O fato é que eu tenho pena do povo cordial brasileiro que se vê entre dois partidos que no fundo não representam ninguém e portanto não são nada, pois adoptam estratégias iguais. O governo condena a violência como quem não quer admitir a incompetência de resolver a própria incompetência, haja vista que o movimento há muito não se restringe a esse ou aquele movimento radical. O governo, ao permitir alta inflação, inevitavelmente terá que se defrontar cada vez mais com esse aquele movimento buscando reajuste de preços. O que "eles" querem na verdade é impedir o povo de promover uma revolução virtual, que deveria forçar uma revolução dentro do proprio congresso.


         Os conservadores estão tanto a esquerda quanto a direita, no meio está a classe média baixa e pobre esmagada pelo estado neopressor dos estados impostos e sem direito a benesses institucionalizadas. De um lado, o discurso da eficiência não encontra respaldo, por outro, a ideia revolucionária dos manifestantes está cada vez mais inverossível e utópica. Só nos resta rezar!
   

    (ps: Dias depois que escrevi esse texto, voltei, e penso agora que algumas coisas podem ser a esperança do Brasil: 1- as manifestações; 2- a lei da ficha limpa, 3 - esse deputado que foi preso, 4 - Alguma medida de mudança eleitoral na linha do que vem sendo chamando de reforma política, 5- possível prisão final dos mensaleiros, 6 - Acabo de ver que a popularidade de dilma despencou em junho. É sempre bom os políticos verem que o povo também tem seus caprichos e que não é cabresto eleitoral. Em tempo, eu espero que saia esse plebiscito, ou o referendo, acho que qualquer mudança nessa linha, que mexa com o sistema político eleitoral, pode ser boa. Só nos resta torcer!)

(O texto autoral emite estritamente a opinião do autor e é de sua inteira responsabilidade)

sexta-feira, junho 21, 2013

Movimento pela Redução Imediata dos Salários dos Deputados


O Povo lutou e conseguiu uma passagem mais justa para o transporte que deveria ser público. É hora de dar o próximo passo! Queremos a redução imediata dos salários dos deputados federais, assim como dos senadores!! Teto de 1 salário mínimo para os políticos!! Se foram eles que votaram esse salário, então eles devem recebê-lo!

PAGINA NO FACEBOOK - MORID


MAC

Museu da Inflação

Um projeto para juntar todas as informações a respeito desse dragão que ainda assusta o brasileiro:

http://www.facebook.com/MuseudaInflacao


por MAC

20/06 MAIS DE 1 MILHÃO NAS RUAS

Protestos pelo pais tem 1,25 milhao de pessoas um morto e confrontos - G1

terça-feira, junho 18, 2013

Av Paulista 17/06/2013




Para desespero dos motoristas, grupo senta nas esquinas da Av. Paulista e impede motoristas de atravessar a via, enquanto multidão começa a se aglutinar no locar.








Grupo impede jornalista da rede Globo de filmar



Segunda, 17/06/2013

O OUTONO brasileiro



  O povo brasileito está em massa nas ruas, coisa que há muito tempo não se via. Começam a aparecer teorias as mais diversas sobre o "tipo" brasileiro e sua luta solitária por melhores condições de vida. O roteiro parecia já estar estabelecido e acordado com todos os atores, a não ser, é claro, com os russos, no caso nós, os brasileiros. Para nós mesmo, é estranho que tamanha indiginação tenha surgido com força no momento em que a festa começa e os convidados começam a chegar. A alegria do futebol (vá lá que está difícil empolgar com essa seleção) não está sendo suficiente para aplacar os ânimos dos trabalhadores e da gente sofrida que, mesmo pela televisão, se comovem ao ver o protesto das passagens. De certa forma, o feitiço virou contra o feiticeiro: estava claro que essa época da copa seria nada mais que uma época de gastança e roubalheira dos políticos, que aproveitaria o silêncio da mídia e a distração das massas para superfaturar. O brasileiro deu um basta a isso: está claro que trocaríamos todo o futebol e todas as copas por uma educação e saúde descente, enfim, por um país mais digno em toda sua enorme dimensão.


   O período de bonança dos políticos acabou. Tanto o PT quanto o PSDB se sentem na corda bamba.  Está claro que esse movimento das ruas não apoia um partido ou outro, o problema é a falta de democracia. A falta de oposição, no entanto, não é mais suficiente para o governo se tranquilizar, pois a insatisfação popular se faz ouvir de forma direta, sem intermediários.


   O que mais se destacou nos movimentos de protesto que ocorreram ao redor do mundo, nas sombras da crise econômica de 2008, foi a espontaneidade das manifestações, na maioria das vezes organizadas na internet. No mundo árabe, as manifestações levaram a queda de ditadores e a um longo e complicado processo de democratização, mas tal fenônomeno se espalhou também para as democracias ocidentais, cujos políticos tiveram que ouvir o urro de insatisfação generalizada das ruas, e embora as repercussões políticas foram menores do que ocorreu no oriente.


   No ocidente, o protesto foi puxado por grupos minoritários na Europa, ou através de ideias gerais e de fácil aceitação, como o ocuppy wall street nos Estados Unidos, que obteve boa repercussão junto à população devido a divulgação dos grandes bônus dos mesmos grandes executivos que levaram à crise de 2008. 
    Enquanto isso, o Brasil e nossos políticos pareciam passar incólumes por essa onda mundial que demonstrava enfim uma crise de representatividade da própria democracia. Nossa economia estava em ótimo momento relativamente, guiada pelo consumo interno, cuja porção dos mais pobres continuava a crescer de forma aluscinante. O que parecia ter sido um remédio acabou quase matando o paciente no entanto. A intervenção do governo na economia começou a atingir níveis também alucinantes, derrubando medidas que garantiria a isonomia das obras e das fiscalização, derespeitando a independência dos poderes e das instituições. A própria imparcialidade e a igualdade de oportunidades é um preceito da democracia e de suas instituições, que começaram a ruir a partir das obras da copa e dos incentivos e proteções locais. O aviso foi claro: aos políticos e empresários que quisessem ganhar dinheiro, o melhor a fazer era se aproximar do governo e tentar tirar uma casquinha. Ao resto do povo, que se cuidasse e se protegesse, pois a inflação estava alta. Agora vemos que muita gente não se cuidou e está pagando o pato.. O governo Dilma até ilustrou um ajuste no início do mandato, mas depois a coisa degringolou de vez, e pior do que antes, pois a despeito de uma melhora na gestão (que não ocorreu), perdemos um presidente que exercia uma liderança social incrível.


     O Brasil vai bem, mas piorou. Ainda temos esperanças, mas os problemas antigos mostraram uma força e uma ameaça latente. E o brasileiro, apesar do carnaval, apesar do futebol, do samba e da cerveja, trabalha feito um cachorro e ganha mal, vive mal e anda mal em cidades fedidas. Enquanto isso, nas cidades da FIFA, como se chama o perímetro intransponível nos estornos dos estádios, vende-se uma imagem de cidade perfeita e meticulosamente planejada.


       A internet também não é um lugar de plena liberdade, de mais a mais, os efeitos de uma teclada nem sempre são fortes o bastante para ganhar as ruas - mas voce não corre risco de vida ao transitar por ela. O espaço virtual é elástico, o que permite às pessoas criarem seus próprios guetos virtuais, onde elas se sentem mais à vontade. Mais do que isso, as redes sociais dão às pessoas uma sensação de poder e controle que fogem das instituições convencionais de governo e de mídia, apesar de que, novamente, essas redes são na verdade empresas que sofrem interferências dos meios tradicionais. Ao mesmo tempo em que aumenta a enxurrada de informações, o internauta aos poucos acustuma-se com o novo terreno.


       Diferentes visões naturalmente coexistem e a vontade política surge naturalmente. Não se trata de um discurso pronto e direcionado contra os meios tradicionais, mas a uma sensação de que a vida real independe do governo (ou mesmo do PIB oficial), e de que existe uma longa separação entre o povo e seus representandos. O que as pessoas procuram na internet e não encontram - uma resposta  do governo e das instituições para suas situações e demandas particulares, acaba se tornando uma voz única de insatisfação que representa a diferença entre o tempo da informação e o tempo das mudanças, que são naturalmente lentas em uma democracia.


       Existe uma sensação de que esses movimentos não param por aqui e que voltarão a repercutir mais tarde. Ao mesmo tempo, o sintoma não reduz o problema, no sentido de que o problema da (falta de) representatividade é global e não parece ter sido devidamente solucionado nos países que já passaram por esses protestos. No Brasil, resta a essa esperança que os políticos acordem, que o governo faça rápido algumas obras melhores e mais úteis para a copa e que a oposição perceba que está longe de ter a oposição das ruas nas mãos. Daí quem sabe nós teremos alguma novidade nesse clima que estávamos de desânimo com a copa e com nossa economia, sem falar de nossos queridos políticos.



(Esse texto reflete apenas a opinião do autor)