sexta-feira, março 05, 2010

Entre Aspas

quinta-feira, março 04, 2010

Johnny Alf

Abaixo uma homengagem da Força a Johnny Alf, que faleceu hoje, 04/03/2010.
Segue aqui um bom documentário sobre esse inesquecível músico, um dos precursores da Bossa Nova.









PNDH - DISCUSSÂO DA FORÇA

Tiaguinho
Roteiro para o autoritarismo
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100110/not_imp493198,0.php 12 jan excluir

Contribuinte
realmente, esse decreto do lula gerou espaços para muitas dúvidas.....
as vezes parece que faz sentido a crítica aos petistas de que eles são autoritários e radicais...de qualquer forma, o Lula é um cara controlador, mas que não faz besteiras....é um cara que dorme 3h por dia, trabalha o dia inteiro e mantém o pique dia após dia, sabendo de tudo que se passa (apesar de falar as vezes que nao sabia....). a questão é: e depois da era Lula, e se cairmos nas mãos de um cara realmente facista? será que o Lula não enxerga esse perigo??? 26 jan excluir

yuri
ele assinou um documento sem ler e nao faz besteiras??Ele e esperto e ta enganando todo mundo.........chegou ao poder fingindo ser contra a ditadura e eis o que ele faz.....igual o PT o partido da "ética e moral"!! 3 mar (1 dia atrás) excluir

Hugo
Engraçado, não vi semelhante ultraje com relação ao filme "tropa de elite" que claramente promove a noção de que existe um estado de sítio, se junta a campanha midiática que promove uma agenda política que amedronta a população e coloca a polícia militarizada promovendo guerra contra a sociedade civil.
Aliás, eu não vejo ninguém reclamando do fato que a nossa polícia é, em sua maioria, militarizada, e não ha nenhum tipo de transparência ou mecanismo de regulamentação democrática que dá a população ao menos o direito de opinar sobre o que a polícia deve ou não fazer. Isso sim é autoritarianismo, e é algo que é repetidamente derrubado de qualquer discussão relevante pela corporação e pelos setores mais a direita no espectro político, que ironicamente são os primeiros a chorar quando a questão da reforma agrária é lembrada de forma razoavelmente séria ou se falam em respeitar direitos humanos... As pessoas um dia poderiam ter a noção de que uma sociedade mais humana é possível, e isso não é interessante para esses grupos. 3 mar (1 dia atrás) excluir
Contribuinte
Gostei, Hugo. Acho que realmente a mìdia dá importância exagerada para algumas coisas em detrimento de outras. O pndh por exemplo é o menor de nossos problemas. O Brasil está cheio de problemas em relação aos direitos humanos. 3 mar (1 dia atrás) excluir

pedro
Concordo com vcs quanto a um ponto : Existem diversas outras implicações dos direitos humanos que passam muito longe do pndh... Vcs ai citaram os militares, que realmente são um reflexo desse autoritarismo ainda presente no nosso país, fruto de um executivo ainda muito forte e controlador. Basta olharmos para as cadeias e veremos que ainda falta muito para a universalização desses direitos humanos...

No entanto, nada disso exclui a necessidade de se criticar esse pndh...Tudo que afronte os direitos humanos e o direito em geral deve ser criticado, seja isso mais ou menos relevante... E o pndh tem claras intenções que são contrárias a um ideal de democracia e de direitos humanos...

Primeiramente, quanto à questão da reforma agrária....Criticar o pndh quanto a questão agrária não significa ser contrário a essa reforma, mas contrário à esse projeto lei – do pndh - , que impõe uma mediação em caso de invasões de terras, sejam ela uma propriedade privada produtiva ou o que for...Isso é altamente criticável, afinal de contas, um sujeito possui uma propriedade privada que é invadida, e ele não pode chamar a polícia ou mesmos expulsar os intrusos.. ( se alguém invadir minha casa eu posso chamar a polícia, ele não ? Direito a propriedade tb não é um direito humano ? ) ... Como viver hj em um sociedade capitalista com o direito à propriedade relativizado? 3 mar (1 dia atrás) excluir pedro
Agora, outra coisa é luta legítima para a realização da reforma agrária, baseada em nossa constituição...Então essa luta deve ser legítima ( exigindo dos governantes que se cumpra a lei e do judiciária que obrigue os governantes a cumprirem seus deveres) ... Não podemos aplaudir medidas claramente abusivas a direitos de outros para solucionarmos nossos problemas crônicos num supetão... Não é pelo fato de muitos terem seus direitos desrespeitados que devemos desrespeitar os direitos já consolidados – parece haver um certo revanchismo nessas idéias presentes no pndh...Eu penso que sempre devemos absolutizar esses direitos , de propriedade , igualdade jurídica e etc...As transformações necessárias não podem jogar abaixo todas nossas conquistas...Com certeza não serão simples as soluções desses nossos problemas..

Outro ponto do pndh que deve ser tb criticado é em relação ao controle da mídia em geral... Hoje já é bastante difundida a idéia de que um dos pilares da democracia é a liberdade de imprensa. O pndh trata da necessidade de se criar órgãos que possam controlar a mídia, uma vez que nada deve ser totalmente livre no estado e etc...Eu concordo, a liberdade de expressão tb deve ter seus freios, mas que sigamos o modelo norte-americano e europeu, em que a mídia é livre para se manifestar, e esses contra-pesos sejam feitos por meio de indenizações , multas e etc....Probir previamente uma publicação não é benéfico para a democracia , já que o estado será o responsável por esse controle, e obviamente qualquer governante quer se manter no poder, o que trás sérias implicaões quando essas medidas são tomadas – basta olharmos para a Venezuela... O Chavez fechou emissoras legitimamente, não concedendo mais licenças..Ai fica a pergunta : Isso foi benéfico para a democracia venezuelana ? O direito da oposição se expressar tb não é um direito humano? 3 mar (1 dia atrás) excluir

pedro
É claro que o pndh é um plano com projetos de leis, ou seja, como vcs disseram , há violações aos direitos humanos muito mais reais que acontecem em nosso dia a dia . Mas esse plano demonstra as intenções de um governo que já possui 80 % de popularidade , o que tornam essas intenções mais reais...E se postas em práticas, na minha opinião irá enfraquecer nossa democracia , dando mais poder ao nosso estado em prol dos direitos individuais, ( que existem tb para defender o cidadão da intromissão indevida do estado), podendo calar determinados grupos e relativizando a igualdade jurídica – o principal pilar de sustentação de uma democracia.. Criticar é sempre benéfico , em se tratando do Brasil, um país ainda não tão estável qto aparente ser – basta olharmos para os diversos traumos sofridos por nossa república presidencialista. 3 mar (1 dia atrás) excluir Tiaguinho
po pedraum diminui o tamanho do texto ai kra!!! 3 mar (1 dia atrás) excluir


pedro
de qualquer modo ,aqui vai um comentário massa do jabor : http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/arnaldo-jabor/2010/03/02/E-PRECISO-IMPEDIR-QUE-OS-SINAIS-DE-AUTORITARISMO-SE-TORNEM-REALIDADE.htm

eu gostaria de ressaltar o que foi dito sobre os policiais daqui e o tropa de elite...muito bem colocado.

Hugo
Não sei se você ja teve a oportunidade de ver a fox news (ou corporações midiáticas semelhantes), mas a mesma é claramente um instrumento de poder. A veja não chega nem perto. A fox promove agendas políticas e idéias de grupos de interesses associados com a empresa abertamente (notavelmente, o partido republicano), e devido aos ideais de "liberdade" não tem compromentimento algum com a verdade ou com notícias balanceadas. A "liberdade" no caso, é a "liberdade" dos detentores da empresa de dizer, fazer e promover o que bem quiser sem restrições éticas ou qualquer tipo de balanço. Poder econômico define o grau de liberdade que cada um tem para se expressar em escala nacional, e isso não é nem democrático nem livre.
O modelo norte americano é bem diferente do modelo europeu, existe o chamado balanço na maioria das legislações europeias, veja bem que balanço e censura são duas coisas completamente diferentes. Censura reprime coisas como "jornalismo gonzo", balanço não.

"
O objetivo do Programa Nacional de Direitos Humanos é que a concessão dada às emissoras de rádio e TV respeite os princípios constitucionais que regem o assunto (art. 221 da Constituição Federal) bem como o Pacto de São José da Costa Rica (OEA) e a Carta de Direitos da ONU. Trata-se de colocar o interesse privado em seu devido lugar e empoderar aqueles que têm sido meros receptores passivos do ponto de vista da classe que domina este país de várias formas, inclusive através de um faraônico financiamento – contabilizado ou não - de campanhas políticas. " 4 mar (19 horas atrás) excluir

Hugo
O ponto central, e ao meu ver mais polêmico do PNDH, que gerou a motivação política para toda essa oposição, foi a Criação da Comissão Nacional da Verdade, que teria poder para investigar violações de direitos humanos durante a ditadura civil-militar.
É de onde o chamado "revanchismo" aparece.
Os ministros militares e o da Defesa criticaram a proposta, alegando que a Anistia promulgada em 1979 encerrava um capítulo na história do Brasil e apagava os crimes cometidos por agentes do Estado e pelos que se rebelaram contra a ditadura.
A América Latina foi varrida por ditaduras civis-militares entre as décadas de 1960 e 1980. Grupos de oposição sofreram perseguição implacável, que incluiu cassações de direitos políticos, prisões, tortura, assassinatos, exílios forçados. A violência não respeitou fronteiras nacionais. A Operação Condor, por exemplo, que reuniu militares de vários países, foi uma multinacional do terror de Estado, responsável por crimes hediondos. 4 mar (19 horas atrás) excluir

Hugo
Com o fim das ditaduras, em meados da década de 1980, os militares retornaram às casernas, mas nem sempre os crimes cometidos em nome da “Segurança Nacional” ficaram impunes. Apesar das tentativas de creditar à “obediência de ordens superiores” as barbaridades cometidas, em muitos casos os criminosos estão sendo julgados e punidos. Em outubro de 2009, a Justiça uruguaia condenou o ex-ditador Gregório Alvarez a 25 anos de prisão, por crimes contra a humanidade (homicídio qualificado de 37 rivais políticos). Na mesma época, foi condenado a 20 anos de prisão o ex-oficial da Marinha Juan Carlos Larcebeau, responsabilizado pela morte de 29 detidos pela ditadura. Na Argentina, onde se estima que 30 mil pessoas desapareceram por obra da repressão, a Justiça tem cumprido um papel honroso na punição dos ditadores e seus cúmplices. A presidente Cristina Kirchner acaba de determinar a abertura dos arquivos confidenciais referentes à atuação das Forças Armadas argentinas no período 1976-1983.
No Brasil, não é de hoje que se tenta bloquear o acesso aos arquivos dos aparelhos de repressão. Mais do que isso: uma espécie de solidariedade corporativa cria obstáculos para esconder todos os detalhes operacionais daqueles aparelhos e fazer com que permaneçam desaparecidos corpos de suas vítimas.
O artigo 5º, inciso XLIII, da Constituição brasileira considera a prática da tortura crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. O Brasil é signatário da Convenção de San José, de 1969, que declara a tortura crime contra a humanidade. Assim sendo, quando agentes do Estado torturam prisioneiros que estão sob sua responsabilidade, cometem crime que não pode ser perdoado por qualquer lei deste país.

Como disse Cezar Britto, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil: “Um país que se acovarda diante de sua própria história não pode ser levado a sério”. 4 mar (19 horas atrás) excluir

Hugo
Recomendo que vocês leiam o programa: http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf
E segue uma carta muito relevante sobre o assunto:
http://groups.google.com/group/forca-popular/browse_thread/thread/17387a405b25f1d4

quarta-feira, março 03, 2010

terça-feira, março 02, 2010

Entrevista de Eduardo Giannetti ao Valor Econômico

http://www.imil.org.br/divulgacao/entrevista-de-eduardo-giannetti-ao-valor-economico/

 

30/11/2009

Ana Paula Paiva/Valor

O economista Eduardo Giannetti não entra na onda de euforia em relação à economia brasileira. Professor do Insper, ele reconhece que o Brasil vive um momento positivo, mas teme a repetição dos erros que marcaram boa parte da história econômica nos últimos 50 anos. "É a história de um país com a vocação do crescimento, mas sem a vocação da poupança, que tenta desesperadamente contornar essa restrição por meio de algum tipo de esperteza, que logo se mostra limitada." Para ele, começa a se criar uma situação parecida com as observadas nos governos de Juscelino Kubitschek (1956-61) e Ernesto Geisel (1974-79).


O atalho de Juscelino foi a inflação, enquanto Geisel usou a abundância de capital externo - os petrodólares - para fazer o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), colocando o pé no acelerador num momento em que o mundo inteiro se ajustava ao choque do petróleo, lembra Giannetti. Desses dois períodos, resultaram problemas graves, que prejudicaram posteriormente a economia do país.


A dúvida de Giannetti é se o Brasil terá maturidade desta vez para transformar o momento favorável "num crescimento equilibrado". O risco, alerta ele, é viver uma espécie de surto, que se interrompe rapidamente por conta de eventuais desequilíbrios - ou monetário ou nas contas externas. Um país que poupa pouco tem dificuldade em financiar o investimento, destaca Giannetti. "O capital externo, bem aproveitado, pode ajudar esse processo, mas ele é coadjuvante. E isso tem que ser feito com muito critério, se não gera problemas de insolvência externa."


O economista diz ainda que o ajuste brasileiro à crise, com incentivo ao consumo privado e aumento dos gastos públicos, deu alívio no curto prazo, mas implica sacrifício e perdas de crescimento potencial num segundo momento. "Todo esse aumento do consumo privado e do gasto corrente do governo significa uma queda importante da poupança doméstica e da capacidade de investimento no futuro próximo", afirma ele, que destaca outra grande fragilidade brasileira: o pouco esforço na formação de capital humano, evidente no fraquíssimo desempenho de estudantes brasileiros em testes internacionais de aprendizado.

Giannetti voltou há algumas semanas de Tiradentes, em Minas Gerais, onde passou quatro temporadas neste ano para escrever o seu novo livro, que trata da "relação entre o cérebro e a mente, tangenciando em alguma coisa a neuroeconomia". Se tudo correr conforme o planejado, sairá no primeiro semestre de 2010. A seguir, os principais trechos da entrevista.


Valor: O Brasil saiu rapidamente da crise, com o mercado de trabalho passando relativamente intacto. Por que o Brasil sofreu pouco?
Eduardo Giannetti:
Em parte por razões circunstanciais e em parte por razões de mérito. Uma razão pela qual o Brasil foi pouco afetado é que não é muito integrado ao fluxo global de comércio, ao contrário do Chile ou mesmo do México. O México exporta 80% do que vende para o mundo para um único mercado, que é o americano. Eles vão ter neste ano uma recessão cavalar de 7%. A robustez do mercado doméstico protegeu muito o Brasil. Nós estávamos com as contas externas em ordem, com reservas que superam nossos compromissos externos de dívida pública e privada. Nós tivemos também uma política monetária que pode ter pecado pelo exagero em alguns momentos, mas nunca errou o sinal na direção do movimento. Isso nos permitiu reduzir os juros durante uma crise internacional, coisa que não se via no Brasil há tanto tempo. Houve também uma reação de política econômica que no curto prazo trouxe grande alívio, mas deixará sequelas e problemas olhando um pouco mais à frente.

Valor: Por quê?
Giannetti: O modelo brasileiro de ajuste à mudança do cenário externo foi o estímulo ao consumo privado e um aumento do gasto público, do gasto corrente. O gasto corrente do governo já havia sido contratado antes da crise, como o aumento das aposentadorias, do salário mínimo, o reajuste do funcionalismo. Por uma coincidência, isso se materializou durante a crise. Houve um estímulo ao consumo privado por meio da redução dos impostos que incidem sobre bens de consumo duráveis, além de uma pressão política do governo para que o sistema bancário estatal aumentasse a oferta de crédito, num momento em que o setor privado se retraía. O caminho de ajuste do Brasil não foi o melhor do ponto de vista de criar condições para um crescimento sustentado mais à frente, tanto que todo esse aumento do consumo privado e do gasto corrente do governo significa uma queda importante da poupança doméstica e da capacidade de investimento no futuro próximo. Esse é o ponto que me preocupa. Nós fizemos um ajuste que dá grande alívio e conforto no curto prazo, mas implica sacrifício e perdas de crescimento potencial num segundo momento.

Valor: Quais as implicações de uma poupança doméstica baixa?
Giannetti: O Brasil já é tradicionalmente um país de nível de poupança baixa, um quadro que se agravou depois de 1988, com a nova Constituição. Na reação à crise, se aprofundou esse movimento da compressão da poupança para alimentar o consumo. Nós estamos com um nível de poupança doméstica de 14% do PIB. Com esse nível, a nossa capacidade de investir e formar capital fica muito prejudicada. Houve uma queda forte do investimento neste ano. Ele está começando a se recuperar, mas vindo de um patamar muito baixo. Nós vamos investir neste ano 16% a 17% do PIB, é um número muito baixo. Se tudo correr muito bem, esse número volta, com o reforço da poupança externa, para algo como 19% a 20% do PIB. Isso nos coloca numa condição crônica de crescimento medíocre, no intervalo de 4% a 5% ao ano.

Valor: Há quem projete expansão da economia de 6% em 2010, com forte entrada de capitais externos. Isso não indica que o país chegou ao crescimento sustentado a taxas mais robustas?
Giannetti: Não. Primeiro, não se pode confundir recuperação cíclica com crescimento sustentado. Não há nenhum segredo em crescer até 6% depois de um ano em que o crescimento é zero e que o PIB da indústria de transformação vai cair 7%. Chamar isso de marolinha não faz o menor sentido. Quando você sai de um baixo nível de utilização de capacidade, há espaço num primeiro momento para reduzir a ociosidade. O enredo do crescimento muda quando o país trabalha muito perto da plena utilização de recursos. Aí começa a dificuldade de crescer, porque é necessário acumular capital, a grande fragilidade do Brasil.

Valor: E o capital acumulado entre 2006 e 2008, quando o investimento cresceu a taxas próximas ou superiores a dois dígitos? Isso não aumentou a capacidade produtiva?
Giannetti: O nível de investimento foi baixo, mesmo nesse período. Num ano excepcional como foi 2008, o investimento chegou a 19,5% do PIB. É pouco. O investimento em infraestrutura, segundo algumas estimativas, sequer repõe o estoque de capital. A nossa infraestrutura deixa muito a desejar, e não é apenas por causa desse último apagão. O sistema econômico brasileiro é caracterizado, entre outras coisas, por um nível muito baixo de poupança, e esse número provavelmente subestima a realidade. Por um anacronismo da contabilidade dos economistas, o capital humano não entra na formação bruta de capital fixo e nos indicadores de poupança. Se nós tivéssemos um número completo para traduzir o tamanho do esforço da sociedade para transferir recursos do presente para o futuro, que realmente refletisse tanto o capital físico quanto o capital humano, o Brasil ficaria numa situação ainda mais desconfortável no comparativo internacional.

Valor: A que se deve isso?
Giannetti: Machado de Assis, num conto chamado "O empréstimo", descreve um personagem com a vocação da riqueza, mas sem a vocação do trabalho. O Brasil é um país com a vocação do crescimento, mas sem a vocação da poupança. Boa parte da nossa história econômica da Segunda Guerra Mundial para cá se resume na tentativa de encontrar maneiras de contornar a restrição imposta pelo nosso baixo nível de poupança e encontrar o crescimento sustentado. Nós tivemos dois episódios emblemáticos na busca desse atalho do crescimento sem dor. O primeiro foi o surto de crescimento juscelinista. Juscelino contaminou a imaginação brasileira com a aspiração de desenvolvimento acelerado, mas não quis apresentar a conta, e encontrou a inflação como um meio de viabilizar um forte adicional ao processo de formação de capital. Como a conta só apareceu depois do seu mandato, ele ficou com essa pecha de grande presidente. Não houve sofrimento, houve um surto desenvolvimentista e a sociedade só depois mal e mal se deu conta do que passou - se é e que se deu -, quando o presidente era outro.

Valor: E a segunda experiência?
Giannetti: Foi o governo Geisel, que imaginou que o Brasil era uma ilha de prosperidade num mar turbulento. Enquanto o mundo inteiro se ajustava, amargando uma recessão diante da nova realidade do choque do petróleo, Geisel colocou o pé no acelerador. Ele aproveitou a abundância de capital externo, que na época eram os chamados os petrodólares, para alavancar a formação de capital aqui. Fez o II PND e transformou o Brasil numa ilha de turbulência num mar de prosperidade.

Valor: O sr. vê o risco de que essas situações se repitam hoje?
Giannetti: Acho que está se criando uma situação parecida com a do Juscelino e a do Geisel. É uma situação em que o Brasil tem uma grande aspiração de crescimento, com oportunidades muito atraentes de investimento e, ao mesmo tempo, existe um grande interesse dos investidores externos em auxiliar e transferir recursos para cá, para participar da expansão da economia. A minha grande dúvida é saber se, desta vez, nós teremos maturidade para transformar essa oportunidade num crescimento equilibrado, ou se nós viveremos de novo uma espécie de surto, que rapidamente se interrompe, porque gerou enormes desequilíbrios, ou monetário ou nas contas externas. A história econômica do Brasil nos últimos 50 anos é a história de um país com a vocação do crescimento, mas sem a vocação da poupança, que tenta desesperadamente contornar essa restrição por meio de algum tipo de esperteza, que logo se mostra limitada. O capital externo, bem aproveitado, pode ajudar esse processo, mas ele é coadjuvante. E isso tem que ser feito com muito critério, se não gera problemas de insolvência externa.

Valor: Para o ano que vem, a expectativa é de que o déficit em conta corrente possa atingir até 3% do PIB, com a aceleração do crescimento. Esse modelo é sustentável?
Giannetti: Pode ser até mais do que isso. Se vai ser sustentável, depende. Se nós gerarmos crescimento que justifique esse reforço de poupança externa, essa conta fecha. Se, no entanto, fizermos um uso muito mais geopolítico do que de rentabilidade e de critério de mercado, como fez Geisel, nós não vamos terminar bem. Haverá uma certa euforia, com a entrada de grande volumes de capital externo, mas sem sustentabilidade.

Valor: Por que o Brasil poupa tão pouco?
Giannetti: Essa é a pergunta que eu tentei responder no meu livro "O Valor do Amanhã", na quarta parte. A nossa formação cultural e as nossas raízes históricas são muito desfavoráveis a essa visão de longo prazo, a essa capacidade de agir no presente tendo em vista o futuro. Isso aparece na previdência, no meio ambiente, na educação, na infraestrutura urbana. Nós temos uma motivação econômica muito forte, mas ela não é consequente, porque queremos dar um passo maior do que a perna. No momento, o Brasil quer aumentar o gasto público, o consumo e o investimento, e não quer saber de poupar. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Uma coisa espantosa é o seguinte: 40% da renda brasileira, considerando 36% da carga tributária bruta mais os quase 4% de déficit nominal, transita pelo setor público. Esse é o gasto total do Estado, mas a distribuição de renda continua a ser o que é.

Valor: Mas a distribuição de renda melhorou nos últimos anos.
Giannetti: Ela melhorou um pouco na margem, mas está na cara que um país em que 40% da renda transita pelo Estado e tem essa distribuição de renda, uma das piores do planeta, é um lugar em que o o setor público não atende sequer devidamente ao quesito da igualdade. O que mais me preocupa é que são recursos que nós deixamos de alocar para a formação de capital humano, que no fundo é a grande fragilidade brasileira. Não dá para ter euforia e otimismo se nós não formos sérios em formar capital humano.

Valor: A euforia de empresários e investidores estrangeiros em relação ao Brasil não se justifica?
Giannetti: Ela é em grande medida oportunística, no sentido de que eles detectam oportunidades de ganho e rentabilidade no país. Para que isso se traduza em ganho civilizatório para a nação brasileira, nós temos que levar com muito mais seriedade todo o desafio e a questão do capital humano. Nós estamos muito longe de dar a isso a consideração que o assunto merece. É só pegar qualquer teste comparativo internacional em que alunos brasileiros participem para medir o aprendizado, tanto da rede pública como das escolas particulares da elite. Nós estamos sempre nas últimas colocações.

Valor: Não houve melhoras nos últimos anos?
Giannetti: Por mais que eu me esforce, eu não vejo. Outro viés da imaginação brasileira é confundir desenvolvimento com formação de capital físico, com industrialização e urbanização. Eu nunca vi aparecer no Brasil um Juscelino do capital humano, alguém que incendiasse a imaginação do país em torno de um projeto de levar a sério a capacitação da população.

Valor: Isso não foi feito nem no governo anterior nem no atual?
Giannetti: Este governo agrava o problema quando torna um programa como o Bolsa Família, no qual estão pendurados cerca de 50 milhões de brasileiros, um modo de vida. Isso é um mecanismo de transferência de renda, não é formação de capital humano. É muito questionável se de fato esse é um uso inteligente dos recursos para capacitar cidadãos para gerar renda por si mesmos.

Valor: Mas é um programa barato, que custa 0,4% do PIB e, segundo especialistas em pobreza como Ricardo Paes de Barros, do Ipea, atinge de fato os mais pobres. Não são pontos positivos do programa?
Giannetti: Eu não tenho nenhum problema com um um programa de transferência de renda para famílias passando por uma situação de privação material aguda. Toda sociedade organizada tem que ter esse tipo de proteção. O que me incomoda é que isso se torne modo de vida. Na imaginação dos brasileiros, já se tornou algo com o qual se pode contar quase que indefinidamente. Não se fala de como sair de uma situação em que 50 milhões de brasileiros dependem desse contracheque. Isso tem raízes na nossa cultura e na nossa sociedade. Há um verso do Noel Rosa que eu costumo lembrar quando eu penso nesse quadro: "Minha terra dá banana e aipim/Meu trabalho é encontrar quem descasque por mim." Não é aspiração brasileira ser como os japoneses, poupar 50% da renda. Acho que não é o nosso caminho, nós temos outros valores, não precisamos dessa obsessão. Mas não é aspiração brasileira também virar um Estado do sul dos EUA, empobrecido. Justiça seja feita, o problema de capital humano no Brasil não é apenas um problema de Estado ou do setor público. É um problema das famílias. As famílias brasileiras são muito pouco atentas e focadas na questão educacional. Quanto mais se estuda a formação de capital humano, mais fica clara a importação da instituição família nesse processo.

Valor: Neste ano, o governo baixou o superávit primário, aumentando com força os gastos correntes. Como o sr. vê as contas públicas?
Giannetti: Essa é a causa fundamental da queda da taxa de poupança doméstica do Brasil. Nós estamos com um déficit nominal próximo de 4% do PIB e todo o esforço de investimento em capital físico do Estado brasileiro chega a 2% a 2,5% do PIB. É muito pouco. O Estado é um despoupador líquido.

Valor: O sr. está preocupado com a trajetória fiscal?
Giannetti: Não acho que ela vá criar qualquer situação emergencial. Nós temos uma certa folga, graças aos superávits primários importantes obtidos no período anterior. Mas ela compromete em caráter crônico o crescimento potencial. O limite de velocidade cai.

Valor: Qual é esse limite hoje?
Giannetti: Eu não tenho uma fórmula para dar um número, mas acho que, mesmo com o aporte de capital externo, nós não passamos do intervalo de 4% a 5% ao ano de modo sustentável.
Valor: Para um país que cresceu de 1980 a 2003 a uma taxa média pouco superior a 2%, crescer de 4% a 5% não é uma melhora?
Giannetti: É uma melhora, mas, se nós estivermos satisfeitos com isso, estaremos nos resignando à mediocridade. Nós deveríamos estar muito mais preocupados com uma melhoria permanente e duradoura da capacidade de geração de renda do cidadão brasileiro.

Valor: O sr. não está sendo muito pessimista? Não há aspectos positivos no atual momento?
Giannetti: É um ótimo momento, o Brasil passou bem pela crise, vai sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, descobriu o pré-sal, mas a minha inclinação como intelectual é moderar as exacerbações da imaginação brasileira. Se repetir a experiência do Juscelino e do Geisel, vai ser mais uma promessa fracassada. É hora de concentrar no longo prazo.