quinta-feira, julho 24, 2014

Capital in the 21st Century - Thomas Piketty

Notes on Piketty’s Book – Introduction

The first chapter of Piketty’s book stresses the importance of bringing inequality back to the heart of economics. Taking a quick trip through the history of capitalism, inequality is shown to be a central feature of capitalism since its dawn. Economics was born at the same time as capitalism (or from the same mother). In its early days, the Classical Political Economy saga, distribution was one of the key questions. Malthus, in 1798, predicted there would be overpopulation; “it is impossible to understand Malthus’s exaggeratedly somber predictions without recognizing the way fear gripped much of the European elite in the 1790s”. Ricardo, in the early nineteenth century, based on the idea that the scarcity of land would inevitably on the long run cause landowners to increase steadily their share of output and income, shared with Malthus the view of an apocalyptic future for capitalism. For Marx, the third prophet of doom, not landowners, but industrial capitalists, would accumulate steadily capital and capitalism eventually would succumb to its illness.

One important lesson from these three examples is that regardless of the failure of their predictions, they were asking the right questions. Economists are often worried about errors type I and type II, but seem unaware of error type III, i.e., providing the correct answer for the wrong question. Piketty is quite critical about the state of affairs of economics, which “should never have sought to divorce itself from the other social sciences and can advance only in conjunction with them”. I shall argue, the prevalence of method over substance inevitably leads to error type III. When “how” comes first and “what” is secondary, we’re necessarily  building an edifice of mathematics over a swamp.  

“To put it bluntly, the discipline of economics has yet to get over its childish passion for mathematics and for purely theoretical and often highly ideological speculation, at the expense of historical research and collaboration with the other social sciences”.

I end this first post on Piketty’s book with two graphs that speak louder than words, if and only if you are convinced the shit hasn’t even begun to hit the fan:





   





Thiago Dumont Oliveira

terça-feira, julho 22, 2014

A Solução de Sempre

Ao se depararem com o problema da violência brasileira, os políticos parecem apenas conhecer uma solução: aumentar as penas e criar novos tipos de crimes. A mídia e a sociedade em geral justificam essa postura, sempre exigindo o endurecimento penal. É uma bola de neve, que só tende a aumentar no período eleitoral.

Atualmente está em tramitação o Projeto de Lei 4.893/12 que visa, como não podia deixar de ser, endurecer as penas para diminuir nossos problemas criminais. Nos dizeres de nossos legisladores, na justificativa do PL,  precisamos de uma “efetiva resposta do Direito Penal ao combate à criminalidade”. É a mesma ladainha que ouvimos todos os dias nos telejornais policialescos dos “cidadãos de bem”, nas rádios populares e, de modo mais brando, na mídia elitizada em geral. 

Não por outro motivo nossa população carcerária é a 3ª maior do planeta, com inacreditáveis 715,6 mil presos, sendo que há 373.991 mandados de prisão em aberto (http://www.conjur.com.br/2014-jun-05/brasil-maior-populacao-carceraria-mundo-segundo-estudo). Ou seja, há quase 400 mil sujeitos condenados que já praticaram o delito criado pelo legislador e já foram devidamente punidos pelo juiz, mas não estão presos. E ai, diante dos números alarmantes de violência, qual a solução dos nossos deputados? Criar mais crimes, que no fundo será criar mais foragidos. 

Como se não bastasse, segundo o jornal Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/06/1474720-policia-civil-so-investiga-1-a-cada-10-roubos-em-sp.shtml), no Estado paulista, de 2004 a 2013, somente 9,3% dos boletins de ocorrências se transformaram em inquéritos policiais, isto é, foram investigados de fato pela polícia. O resto, 91,7% das notícias de crimes formalizadas pelas vítimas, foram desprezadas pela Polícia Investigativa. E qual a solução que temos para o aumento da criminalidade? Criar mais crimes, que no fundo será criar mais notícias de crimes. 

Há três séculos o grande penalista Cesare Beccaria já chamava a atenção para uma simples e óbvia constatação, de que quanto mais crimes forem criados, mais crimes existirão. E, afora a simples e genial constatação, isso também ocorre por outro motivo em nosso país: O sistema carcerário tortura diariamente centenas de milhares de presos, que um dia voltarão paras as ruas. E, em geral, essas centenas de milhares de presos não agirão como cidadãos, pelo simples motivo de que não foram tratados como cidadãos. E qual a solução para o aumento da criminalidade? Criar mais crimes, que no fundo será criar mais reincidentes.

Assim, enquanto prevalecer apenas o discurso penalista e endurecedor para solução dos nossos problemas de violência, só estaremos criando mais criminosos, que serão menos investigados e, caso sejam presos, voltarão a praticar ainda mais crimes.

PFMN. 

sexta-feira, julho 18, 2014

Novas políticas

      Não dá pra acreditar numa democracia completa ou numa novíssima política... no final, são os mesmos grupos que dominam os partidos e o estado, então uma mudança é importante para evitar um aparelhamento completo por apenas um grupo, como o pt vem fazendo em amplas áreas do governo federal. Esse aparelhamento contaminou de vez a administração do governo e impregnou todas as instâncias com uma ideologia cega, que acabou enfraquecendo as instituições e respingando na economia.

Mas o PT tem que  parar com a mania de demonizar seus antigos aliados. O Campos é uma figura que saiu pela porta da frente do PT. A marina principalmente entrou e saiu em todos os partidos pela porta da frente. O pt ao contrário se juntou a inúmeros aliados pela porta dos fundos, de modo que o fisiologismo é tão grande que nem estão mais escondendo os encontros com os maluffs, collors, etc.

É engraçado como esse partido, mesmo ao se juntar ao que existe de mais vil na política e atacar seus antigos aliados, consegue bradar um discurso ideológico para o povão. Por incrível que pareça, é o auge do fisiologismo.


A marina pode ser romântica demais, mas é a única que tentou fazer alguma coisa nos últimos anos. Tentou criar um partido e não conseguiu, possivelmente com a ajuda do pt. Entrou e saiu dos partidos pelas portas da frentes, às claras, sem procurar insistir em negociatas para aumentar o poder.


Acho que o Aécio mostrou grande esperteza no ano passado. Conseguiu se firmar como o principal nome da oposição no momento certo. Logo depois das manifestações, quando o desponcontentamento estava no ápice, passou a atacar o governo e passou a ser visto como o maior crítico ao PT. Mas acho que o Campos ainda tem chance, pois muita gente por aí não quer mais pt, mas também não quer votar no psdb.

MAC

quinta-feira, julho 03, 2014

A day with Amitava Dutt

Actually, last week we had two days of Dutt, the best academic experience I’ve ever had.

Talking to Dutt was a confirmation of an old dream: to go abroad for my Ph.D.

Not that we don’t have excellent professors in Brazil, we do! Gilberto de Assis Libânio, Dutt’s host during his journey through UFMG, is a brilliant professor as well, and I’m quite glad to study Macroeconomics with him. However, he also took his Ph. D. abroad, at Notre Dame, which partially explains his broad vision of economics.

Back to Dutt, the most remarkable feature of his personality is that he is definitely not radical. In economics we are very much used to extreme reasoning, there are several schools of thought fighting over semantics. Had we learned “The tower of Babel” moral, much of the disasters we see in our society could have been avoided. Rather than working together, however, economists preferred fighting for hegemony within the profession. Take mathematical models, for instance. Instead of debating which models work under specific contexts, we engaged in a hopeless competition, as if some particular model could answer everything everywhere. I wish I could say economics is playing a zero sum game, but I think it’s a negative one.

Dutt’s open minded vision of our science reminded me the most important lesson my father has taught me, Aristotle’s Golden Mean. My dad behaves like a Greek philosopher in many ways, even though his Ph. D. was in a different field within philosophy. If economists took Aristotle seriously, the current debate about pluralism in economics would be redundant. Unfortunately, nevertheless, we focus so much in mathematics we can barely dialogue with other fields of science. The trade-off of being a brilliant mathematician is the lack of a critical view. An obsessed mathematician might not even notice the homeless family living nearby his house due to the fact that every time he walks by them he is trying to solve one of the millennium prize problems.

I have no problem with mathematics; it has always been my favorite subject, actually. However, thanks to my father and the great professors I had during my undergrad at UFMG such as Hugo da Gama Cerqueira , João Antônio de Paula, Eduardo da Motta Albuquerque and Marcelo Magalhães Godoy, it has become clear that sticking to a particular interpretation of the world isn’t going to change our dismal science, not to say our society, which should be our goal.
Some students choose economics to earn a fat check working at the stock market or the like. But I still believe (you can call me naive) that most students engage in economics in order to grasp a better understanding of our society, and, in the limit, change the world (or at least to help the homeless family living nearby you).



Dutt’s lesson, put it short, is that optimization might be helpful to understand specific issues and we shouldn’t doom mainstream economics. The blind belief of standard economics as a method that can solve any problem, on the other hand, is jeopardizing to the future of economics, and, more importantly, of our society. 

sábado, março 15, 2014

Manifestações K. - multidão supostamente comprada para apoiar o governo no início do ano legislativo

Buenos Aires. Começa o ano legislativo na Argentina com um discurso de cerca de 2h de Cristina Kischner em frente ao congresso nacional, onde ocorre a concentração dos manifestantes. (01/03/2014)


















sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Fixed Quota System x Tradable Procreation Permit


Comparing the fixed quota system with a tradable procreation permit, I would argue that the latter is more questionable than the former. Even though a tradable procreation permit would be efficient whereas a fixed quota system would not, its impact in terms of eroding people’s perception of how fair their community is offsets efficiency gains. People’s expectations about one another affect their behavior towards the group, a position underpinned by a large body of recent academic evidence that rejects the idea of the utility maximizer representative agent. It is rather the case that emotion and moral codes play a major role in human decisions. In this vein, one’s attitude toward his or her group, including whether  one cooperates or not and to what degree, depends fundamentally on the person's expectations about the rest of the group. Hence, the fairness of public policy fosters cooperation among agents. The design of public policy and institutions must account for this behavioral effect, taking the discussion beyond efficiency concerns.

Specifically as regards the options at hand, a fixed quota system is problematic in a highly unequal world. Imposing a significant fine on the poor for an extra child limits their freedom regarding family decisions, whereas for the rich the cost of having more than one child dissipates in their mammoth budget. A fixed quota system, however, can be socially acceptable by letting the fine on extra child be proportional to income. On the other hand, when there is a market for the right to have a child, such as a tradable procreation permit, the nature of having children changes drastically. When kids are goods, having a child implies an opportunity cost absent under a fixed quota system. Kids would most likely become luxury goods under such conditions; rich families would be notable for having five kids. For the average guy, having a child would imply not earning a lot of money, as the right to have kids would presumably be quite expensive. A young couple would thus be faced with the awkward decision of having a kid or selling the right to do so and travelling around the world, buying a car or an apartment and so forth. Who knows what the price of life would be? For poor people, having a child would be a burden; selling their fundamental right to have a family would be a matter of making ends meet. A market for children introduces an opportunity cost, its corollary is to create a fallacious equivalence between money and life, as if they were interchangeable.


https://mail.google.com/mail/u/0/images/cleardot.gifMost economists would argue it’s a paradox that one system can be more efficient yet less preferable than other. Mainstream economics isolates moral concerns from its analyses claiming everything can be understood as goods. Economic models and its restrictive hypothesis, however useful, must operate within its boundaries. Most relevant economic questions lie beyond orthodox framework, and, in such cases, dialoguing with other fields of science is paramount.

quarta-feira, janeiro 29, 2014

Quem escolhe em quem voce vota?

Enquanto o brasileiro continuar discutindo coisas boçais, vamos continuar ocupando o mesmo lugar que sempre ocupamos no mundo. Mas é a escolha do brasileiro: parar tudo para discutir o capitalismo, o socialismo, a copa do mundo e futebol.. é o famoso ser ou nao ser tupiniquim...

Até aí, tudo bem. O que nao sei bem é se esses diferentes projetos estao claros para a populacao, isso não é só culpa da mídia, mas dos políticos e da própria sociedade, que adora discutir várias coisas ao mesmo tempo, misturando as definições e as paixões.

Com isso, metade da discussão se perde. Ninguem sabe ao certo o efeito das política públicas, dos gastos, dos investimentos, nem o governo tem a menor noção disso, tudo não passa de "achismo".

Todos querem igualdade, justiça, etc... mas não se pode ignorar o mercado, pois ele é exatamente o que escapa do controle do estado e das pessoas. É como a água, não adianta querer pegá-la de qualquer jeito, que voce não consegue. O mercado é o real, o discurso político é o imaginário. Na prática real do mercado, as pessoas trocam o debate político por mais dinheiro, prazos, salários, oportunidades. E voce pode entrevistar as pessoas antes para saber o que elas acham moralmente mais correto, mas elas não vão seguir o que falaram no momento em que as oportunidades aparecerem.

Então, vc pode chamar o governo de como quiser (tipo neo-anarco-socialismo), mas sempre vai continuar existindo aqueles que se beneficiam mais do que os outros, que mantém privilégios do governo, informações secretas, que se vendem pelo dinheiro, que são mercadores da morte, que são traficantes, vagabundos, ou como quiserem chamá-los. A luta de qualquer governo não é contra ou ideologia, isso é mera desculpa, e sim contra esses "cupins" que estão infiltrados em todo o governo e corroem a máquina por dentro.

Entao, o bolsa família é ótimo? é.. e os outros programas? Qual é o custo deles? O que a gente tá ganhando e o que estamos perdendo? O que pode existir de mais libertador, especialmente nas eleicões, é a possibilidade de uma escolha real, entre diferentes projetos, bem delimitados. Escolher pelo voto é dar maioridade ao povo, mas muitas vezes o discurso ideológico dos próprios políticos (e da sociedade) visa justamente a confundir o eleitor para que não sejam visíveis as diferentes opções. Dessa forma, monta-se o discurso do bem e do mal, dos brasileiros contra os entreguistas, de um bando de encastelados discutindo, com o dinheiro público, a realidade metafísica do capitalismo, nesse panelão que é o Brasil, destinado a ficar borbulhando em banho maria para sempre.
   
     Daí retorna-se às velhas discussões sobre economia, capitalismo, sobre os juros, os lucros, a ambição, a ganância, e outros assuntos que remontam à teologia cristã durante a Idade Média. Enquanto os mais espertos, ou os engenheiros, os matemáticos e outros menos apegados ideologicamente enchem os bolsos sem a menor culpa.

     Repito: Até que ponto o brasileiro é capaz de fazer escolhas? Até que ponto o brasileiro entendeu como funciona a democracia, que o voto serve para ti, que o importante são suas condições de vida, o que ele vê ao redor, e não para atender nenhuma entidade moral e imaginária, em geral alheia aos seus problemas. Supondo que essa questão seja solucionada, mais problemas aparecem: ainda que saiba o quer para si, as propostas não são bem definidas, o sistema eleitoral não é perfeito, os políticos procuram confundir o eleitor, que é afinal uma parte muito pequena de todo o processo.

      Ou seja, ainda que o eleitor saiba o que quer, o sistema eleitoral não supre sua insatisfação ou seu incômodo, pelo contrário, pode até aumentá-los, pois querer não é poder, e uma minoria nunca pode se preponderar a uma maioria, apesar que a democracia também implica o respeito aos direitos de todos. Ainda que todos saibam o que querem e não haja ilusão dos políticos, para as coisas funcionarem bem é necessária uma grande dose de coincidência entre os diversos interesses, sempre respeitando os interesses da minoria, de modo que o gigante acorde e não volte a dormir.


MAC


************************************************************************************************


A propósito:


O copo e o vento"O que a eleição pode trazer de melhor é a explicitação de projetos divergentes, com defesas consistentes dos dois lados"


João Paulo
Editor deCultura - e-mail: jpaulocunha.mg@diariosassociados.com.br

Publicação: 25/01/2014 04:00

Copo d'água, obra do artista plástico Iran do Espírito Santo, que pode ser vista na Galeria Mata, em Inhotim (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press-22/10/08)
Copo d'água, obra do artista plástico Iran do Espírito Santo, que pode ser vista na Galeria Mata, em Inhotim


“É sempre bom lembrar/ que o copo vazio/ está cheio de ar.” Os versos de inspiração zen-budista da canção de Gilberto Gil parecem sintetizar, muitos anos depois, a situação real do nada sagrado tempo em que vivemos. Enquanto poucos e eloquentes cantam o copo vazio da crise que se avizinha inexoravelmente, a maioria parece bastante otimista, tocada pelo vento seguro, como uma nau de velas pandas. 

Em outro contexto, o psicanalista francês Jacques Lacan apelava para a existência de três constituintes do universo psicológico – o real, o simbólico e o imaginário. Não parece ser outra a relação das pessoas com a sociedade e a política. Há o real, dos que vivem o dia a dia; o imaginário, dos que desejam outro cenário; e o simbólico, que pode ser traduzido nas ideologias que de certa forma amparam os dois lados em conflito.


O que a canção e a psicanálise têm a nos dizer, quando se trata de economia e crise, é que sabemos sempre menos do que precisamos. As certezas se mostram a cada dia mais caducas e exigem não apenas abertura para o novo, mas honestidade de propósitos. Algo que é essencial sempre, mas que se torna civilizador quando se entra, como agora, no calor de uma eleição.


O ponto de discordância entre os pessimistas – do meio copo vazio – e os otimistas – do copo meio cheio – é, mais uma vez, a precedência dada à economia quando se discutem divergências políticas. Tudo se passa como se houvesse alguns universais a serem perseguidos (controle da inflação, estabilidade, pleno emprego, crescimento sustentável) e pequenas diferenças na forma de chegar a esses objetivos.


No entanto, a própria colocação do problema já antecipa o sentido do debate. É preciso lembrar sempre que a opinião pública, de certa maneira traduzida no Brasil pela opinião publicada pela chamada grande imprensa, parece ter apenas como norte a defesa dos valores liberais de mercado. Para entrar na roda, é preciso de antemão se localizar entre os “capitalistas modernos”, que pela cartilha da mídia é quase uma redundância. Ainda que falsa em seus fundamentos.


Por isso, o tratamento dado à economia no contexto das disputas políticas precisa ser feito com mais honestidade. Tipo papo reto. Não há consenso, como se propaga, que o melhor receituário é o que incorpora a inflação na meta, câmbio livre e equilíbrio fiscal, com atenção especial ao superávit primário. Essa equação quase sempre desanda para a subida de juros, volatilidade de capitais e garantia do ganho do setor financeiro rentista, mesmo à custa do arrocho do contribuinte.


Trata-se de uma economia ligada a valores que são menos do mercado (uma entidade quase mágica) e mais do capital (que pode ser fetichista, mas não tem nada de irreal). Os chamados fundamentos da economia são, na realidade, uma forma técnica de defesa de uma opção nitidamente política. Além do mais, tal receituário, aplicado por décadas nos países ricos com o lastro das economias dependentes, está fazendo água, com alto grau de desemprego e insegurança social em muitos países da Europa. A ideia de uma social-democracia para poucos não pode mais subsistir num cenário de demanda real de melhoria do padrão de vida para todos. 


No lado da economia das pessoas comuns a sensação é outra. Mesmo com a ameaça da inflação como grande atiçador brandido por parte da oposição, a melhoria do padrão de vida é patente. Programas sociais vitoriosos – na área da distribuição de renda, oportunidades na educação e moradia – são traduzidos no dia a dia como novo patamar qualitativo de existência. E, o que é mais significativo, alteram a relação das pessoas com a sociedade e com a autoestima. Há uma postulação de direitos, tomados como naturais e evidentes, que é ainda mais importante que as conquistas meramente materiais.


Se o fato fosse apenas a distinção de projetos para a sociedade brasileira – e é para isso que servem as eleições – tudo estaria no melhor dos mundos. Bastaria apresentar as propostas existentes e dar ao povo liberdade de escolher. No entanto, o que se percebe é um atravessamento moral do debate, como se estivesse em jogo a verdade ou, em outras palavras, o bem contra o mal. Sempre que se descamba para o terreno do moralismo, quem perde primeiro é a política. Uma eleição que resgata a política começa bem. É o que se espera dos próximos lances. Ou então, o que sobra é um misto de descontentamento alienante (“todo político é ladrão”) somado a uma cobrança por eficiência (“padrão Fifa” ou “Primeiro Mundo”).


O projeto liberal, representado pela oposição – e por isso é bom que Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central na gestão de Fernando Henrique Cardoso, esteja sendo apresentado, ainda que informalmente, como economista-orgânico de Aécio Neves, possível candidato do PSDB às eleições presidenciais –, vai na linha da defesa dos chamados fundamentos da economia de mercado. São propostas vindas do setor financeiro, com trânsito privilegiado pelo mercado de capitais, como indica a origem de Fraga. 


É isso que a eleição pode trazer de melhor, a explicitação de projetos divergentes, com defesas consistentes dos dois lados: o neodesenvolvimentista, do atual governo; e o neoliberal, das oposições (para ficar mais amplo, é só lembrar que no caso de Eduardo Campos, virtual candidato do PSB, sai Armínio e entra Giannetti da Fonseca na seara da economia, sem mudanças substanciais). É com esses elementos, desdobrados nos debates em propostas concretas, que o eleitor vai ter que se dar para fazer sua opção. Não com a escolha entre Deus e o diabo, entre a mentira e verdade, a modernidade e o atraso. Na vida, como na política, as metáforas são apenas fantasmas.


MAGAZINE CONECTION
 No começo da semana, num programa da TV paga, Manhattan conection (um exemplo antipático de subserviência colonial e intelectual da mídia brasileira, que costuma indicar o melhor pãozinho de NY), a empresária Luzia Trajano, dona de uma rede de lojas de varejo, foi posta na arena dos leões do ultraliberalismo. Em desvantagem numérica – estava sozinha contra um economista e três jornalistas alinhados com a tese do copo vazio –, ela mostrou números, propósitos e ações que fazem a diferença entre a teoria catastrofista e a realidade. 


De um lado, a ameaça da bolha; do outro, a celebração do crescimento do emprego e do consumo; um setor defendendo o capital transnacional, a varejista apontando a especificidade do nosso mercado. O programa foi ainda exemplar em outro aspecto, sobre o qual ainda temos que melhorar muito: a capacidade de ouvir o outro. Na arrogância que caracteriza a elite brasileira (da qual a imprensa é um bom sucedâneo), existe sempre a palavra autorizada, que um dia Marilena Chauí nomeou de “discurso competente”. Luzia, na contramão desse jogo de cartas marcadas, levou ao telespectador, além da comunicação fácil e sincera, a sabedoria que faltava a quem sempre se defendeu mais com padrões morais que com a realidade.


Luiza pode ser empresária, mas é mulher, deixa claro que veio de baixo e atua num setor pouco charmoso do mercado (vender papéis podres e carros insustentáveis é mais chique que negociar chapinhas e tanquinhos). Por isso tinha tudo para ser diminuída e tratada como um dinossauro (o jornalista Diogo Mainardi, que mostrou sua ignorância com relação aos números da inadimplência brasileira no comércio, chegou a varticinar a venda do magazine para uma pontocom americana). O resultado, no entanto, como se viu durante a semana nas redes sociais, foi uma empatia dos argumentos da empresária com o sentimento das pessoas.


Essa talvez seja a lição mais importante para quem está preocupado em dar o rumo certo ao debate econômico durante o franco período eleitoral que vivemos. Quem vota não são os colunistas de economia e seus leitores, cada vez mais parcos e desinformados, mas as pessoas comuns. E, por uma regra de mercado, destas que não costumam falhar, geralmente a maioria está certa, já que a inteligência e o bom senso não são atributos de classe. Uma Luzia Trajano vale mais que quatro comentaristas. Com o voto, a lógica é a mesma: a realidade sempre liquida a teoria vazia e cheia de ar.

sábado, janeiro 25, 2014

Pobreza ou desigualdade?

A desigualdade pode ser pensada em diferentes aspectos. A renda ou a riqueza são interessantes para medir a variância do fluxo e do estoque monetário. A desigualdade de capital humano está correlacionada com a desigualdade de renda. Em um mundo perfeito e sem incertezas, a desigualdade seria zero, todos seríamos ricos e não haveria necessidade do trabalho. O mercado exige no entanto a remuneração dos fatores de acordo com  seus esforços, de modo que alguma desigualdade pode ser necessária e deve ser tolerada.

A desigualdade é especialmente danosa quando ela condena milhares de pessoas para a pobreza, sem que sejam oferecidas oportunidades profissionais e de uma plena vida social e cultural. Essa desigualdade nada tem a ver com a remuneração dos fatores de acordo com o esforço e a meritocracia, mas com privilégios e incentivos perversos impostos por uma pequena parcela da população que monopoliza o poder político e econômico, e que portanto não criam e não produzem nada.


Essa discussão é especialmente pertinente ao Brasil pois os programas de transferência de renda que visam exclusivamente a redução da desigualdade da renda parecem estar chegando ao limite, após forte expansão e fortes impactos nos últimos anos. É possível a redução permanente da desigualdade de renda ou riqueza quando se há enorme discrepância educacional e no acesso a fatores básicos de vida, como saneamento básico, escolas e sistema de saúde? A redução da desigualdade de oportunidades básicas nas fases iniciais de vida pode resultar em enormes oportunidades ao longo de toda a vida

O governo priorizou nos últimos anos a redução da desigualdade de renda, em detrimento do próprio crescimento e do nível geral de renda. A redução dessa desigualdade evita os danos de uma concentração excessiva de poder, mas não deveria ser vista como objetivo final de suas políticas. A pobreza é um indicador muito mais eficaz para se avaliar a eficiência das políticas públicas.

https://openknowledge.worldbank.org/bitstream/handle/10986/2580/468270PUB0Meas101OFFICIAL0USE0ONLY1.pdf?sequence=1


http://globotv.globo.com/globo-news/entre-aspas/t/todos-os-videos/v/relatorio-de-ong-mostra-que-desigualdade-social-no-mundo-aumentou-consideravelmente/3093854/


MAC




sexta-feira, janeiro 24, 2014

Robot Economicus

Adam Smith economics can’t be seen as value-neutral driven. Modern Economists misread the father of economics by either not reading The Theory of Moral Sentiments or by considering it independent from his other book, slightly more famous. Oddly enough, the so-called father of economics gave birth to a child that didn’t share the Scottish Enlightenment’s DNA, for Smith’s reasoning was embedded on Scottish Tradition under which moral concerns played a major role.


Born out of Smith’s wedlock with the Illuminati, not exactly nine months after the author’s major academic intercourse in 1776, the Homo Economicus, put it short, is a misinterpretation of Smith’s self-interest concept.

Little by little the politique was taken away from the économique and economics became mathematics. In order for economics to be a science such as physics men were reduced to atoms. Quoting Murray Gell-Mann, “Think how hard physics would be if particles could think”, now, think how hard economics would be if men had feelings? Modern economics, under the streetlight effect, asks not this question. A drunken mainstream economist is looking for his car keys under a lamppost, a younger economist asks whether he has lost his keys there, the prominent economist replies: “No, I lost the keys somewhere across the street, but the light here is better”. The youngster follows his master with all his heart, ironically, for heart matters belong not to the modus operandi of his science. He gets thrilled when his paper proving that emotions play no role in economics wins the Clark Medal. In the following years he gets completely obsessed with the possibility of winning the Nobel. Unfortunately this fairy tale doesn’t have a happy ending; during his lifetime another economist was actually able to prove that humans are robots, hence winning the Nobel prize for his major contributions in fostering the scientific inherent aspects of life.

Passionate economists argue that Robot Economicus inhabits our world, they twist-and-shout and scream-and-cry to defend their deep beliefs. Just don’t blame Adam Smith for our blindness, the man he portrayed wasn’t ruled by algorithms:


Though every man may, according to the proverb, be the whole world to himself (...) Though his own happiness may be of more importance to him than that of all the world besides (...) In the race for wealth, and honours, and preferments, he may run as hard as he can, and strain every nerve and every muscle, in order to outstrip all his competitors. But if he should justle, or throw down any of them, the indulgence of the spectators is entirely at an end. It is a violation of fair play, which they cannot admit (…) They readily, therefore, sympathize with the natural resentment of the injured, and the offender becomes the object of their hatred and indignation”.