domingo, dezembro 06, 2009

O desafio das drogas

O desafio das drogas

Fernando Henrique Cardoso
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Um dos temas mais difíceis do mundo contemporâneo é o que fazer com o uso de drogas. Existem algumas comprovações bem estabelecidas sobre a questão. Se é verdade que sempre houve consumo de diferentes tipos de drogas em culturas muito diversas - embora não em todas -, não menos verdade é que ele no geral se deu em âmbito restrito e socialmente regulamentado, principalmente em cerimônias rituais. Não é esse o caso contemporâneo: o uso de drogas se disseminou em vários níveis da sociedade, com motivações hedonísticas; no mais das vezes, sem aprovação social, embora, dependendo da droga, haja certa leniência quanto aos usuários.

Sabe-se também que todas as drogas são nocivas à saúde, mesmo as lícitas, como o álcool e o tabaco. E que algumas são mais nocivas do que outras, como a heroína e o crack. A discussão sobre se o consumo de drogas mais fracas induz ao de outras mais fortes é questão médica sobre a qual não há consenso. Para fins de política pública o importante a reter é que as drogas produzem consequências negativas tanto para o usuário quanto para a sociedade e que reduzir ao máximo o seu consumo deve ser o principal objetivo.

A discussão, portanto, é sobre diferentes estratégias para atingir o mesmo objetivo. Até agora a estratégia dominante tem sido a chamada "guerra às drogas". Foi sob a sua égide, sustentada fundamentalmente pelos Estados Unidos, que as Nações Unidas firmaram convênios para generalizar a criminalização do uso e a repressão da produção e do tráfico de drogas.

Decorridos dez anos, a agência da ONU dedicada às drogas reuniu-se este ano em Viena para avaliar os resultados obtidos pela política de "guerra às drogas". Simultaneamente, na Europa e na América Latina, comissões de personalidades independentes fizeram o mesmo, apoiando-se em análises preparadas por especialistas. Eu copresidi com os ex-presidentes da Colômbia e do México, respectivamente César Gaviria e Ernesto Zedillo, a comissão latino-americana. Nossa conclusão foi simples e direta: estamos perdendo a guerra contra as drogas e, a continuarmos com a mesma estratégia, conseguiremos apenas deslocar campos de cultivos e sedes de cartéis de umas para outras regiões, sem redução da violência e da corrupção que a indústria da droga produz. Logo, em lugar de teimar irrefletidamente na mesma estratégia, que não tem conseguido reduzir a lucratividade e, consequentemente, o poderio da indústria da droga, por que não mudar a abordagem? Por que não concentrar nossos esforços na redução do consumo e na diminuição dos danos causados pelo flagelo pessoal e social das drogas? Isso sem descuidar da repressão, mas dando-lhe foco: combater o crime organizado e a corrupção, em vez de botar nas cadeias muitos milhares de usuários de drogas.

Em todo o mundo se observa um afastamento do modelo puramente coercitivo, inclusive em alguns Estados americanos. Em Portugal, onde desde 2001 vigora um modelo calcado na prevenção, na assistência e na reabilitação, diziam os críticos que o consumo de drogas explodiria. Não foi o que se verificou. Ao contrário, houve redução, em especial entre jovens de 15 a 19 anos. Seria simplista, porém, propor que imitássemos aqui as experiências de outros países, sem maiores considerações.

No Brasil, não há produção de drogas em grande escala, exceto maconha. O que existe é o controle territorial por traficantes abastecidos principalmente do exterior. Dada a miserabilidade e a falta de emprego nas cidades, formam-se amplas redes de traficantes, distribuidores e consumidores que recrutam seus aderentes com facilidade. O País tornou-se um grande mercado consumidor, alimentado principalmente pelas classes de renda média e alta, e não apenas rota de passagem do tráfico. Enquanto houver demanda e lucratividade em alta será difícil deter a atração que o tráfico exerce para uma massa de jovens, muitos quase crianças, das camadas pobres da população.

A situação é apavorante. O medo impera nas favelas do Rio. Os chefões do tráfico impõem regras próprias e "sentenciam", mesmo à morte, quem as desrespeita. A polícia, com as exceções, ou se "ajeita" com o tráfico ou, quando entra, é para matar. A "bala perdida" pode ter saído da pistola de um bandido ou de um policial. Para a mãe da vítima, muitas vezes inocente, dá no mesmo. E quanto à Justiça, não chega a tomar conhecimento do assassinato. Quando o usuário é preso, seja ou não um distribuidor, passa um bom tempo na cadeia, pois a alegação policial será sempre a de que portava mais droga do que o permitido para consumo individual. Resultado: o usuário será condenado como "avião" e tanto quanto este, ao sair, estigmatizado e sem oferta de emprego, voltará à rede das drogas.

É diante dessa situação que se impõem mudanças. Primeiro: o reconhecimento de que, se há droga no morro e nos mocós das cidades, o comércio rentável da droga é obtido no asfalto. É o consumo das classes médias e altas que fornece o dinheiro para o crime e a corrupção. Somos todos responsáveis. Segundo: por que não "abrir o jogo", como fizemos com a aids e o tabaco, não só por intermédio de campanhas públicas pela TV, mas na conversa cotidiana nas famílias, no trabalho e nas escolas? Por que não utilizar as experiências dos que, na cadeia ou fora dela, podem testemunhar as ilusões da euforia das drogas? Não há receitas ou respostas fáceis. Pode-se descriminalizar o consumo, deixando o usuário livre da prisão. As experiências mais bem-sucedidas têm sido as que vêm em nome da paz, e não da guerra: é a polícia pacificadora do Rio de Janeiro, não a matadora, que leva esperança às vítimas das redes de droga. Há projetos no governo e no Congresso para evitar a extorsão do usuário e para distinguir gradações de pena entre os bandidos e suas vítimas, mesmo quando "aviões", desde que sejam réus primários. Vamos discuti-los e alertar o País.

sábado, dezembro 05, 2009

Música inédita de Tom

Joao Barandi : http://veja.abril.com.br/091209/tom-jobim-composicao-inedita.shtml

segunda-feira, novembro 23, 2009

Níveis de gases-estufa batem recorde na atmosfera, diz ONU

Por Robert Evans

As concentrações de gases que provocam o efeito estufa na atmosfera estão no maior nível já registrado e continuam aumentando, disse na segunda-feira a Organização Meteorológica Mundial (OMM, um órgão da ONU).



O diretor da agência, Michel Jarraud, disse que essa tendência pode estar levando o mundo para os cenários mais pessimistas com relação ao aquecimento global nas próximas décadas, caso não haja uma ação urgente.




Reuters/Ajay Verma
Chaminé de fábrica em Chandigarh, na Índia; as concentrações de gases que provocam o efeito estufa na atmosfera estão no maior nível já registrado, segundo OMM


No pior cenário traçado pelos cientistas de uma comissão da ONU em 2007, a temperatura média do planeta subiria entre 2,4 e 6,4 graus Celsius até o final do século. Isso provocaria inundações, secas, degelo das calotas polares e outros problemas climáticos.





O G-8 e outras grandes economias concordaram, em uma cúpula na Itália em julho passado, em limitar o aumento para até 2 graus Celsius.



Em entrevista coletiva em Genebra, a propósito do lançamento oficial do Boletim do Gás do Efeito Estufa, uma publicação anual, Jarraud disse que "o conteúdo de CO2 (dióxido de carbono, o mais comum dos gases-estufa) na atmosfera subiu ligeiramente mais rápido em 2008 do que ao longo da última década, quando a taxa de crescimento era de 1,9 parte por milhão (ao ano)".



Segundo ele, a concentração de CO2 atingiu 385,2 partes por milhão em 2008, um aumento de 2 partes por milhão em um ano.



GASES-ESTUFA EM NÍVEIS RECORDE



"Em 2008 as concentrações mundiais de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso na atmosfera atingiram os maiores níveis registrados desde a época pré-industrial", disse o OMM.



O dado deve ser levado em conta na reunião ministerial da ONU entre 7 e 18 de dezembro, em Copenhague, que discutirá a adoção de um novo tratado climático global.



Um dos principais itens a serem discutidos são as metas de redução das emissões de gases-estufa por causa da queima de combustíveis fósseis, especialmente nos países industrializados.



Jarraud disse que o relatório mostra que "estamos realmente mais próximos do cenário mais pessimista" e "reforça o fato de que uma ação tem de ser tomada assim que possível". "Quanto mais adiarmos a decisão, maior será o impacto".



A OMM coordena a observação dos gases do efeito estufa na atmosfera por meio de uma rede de estações em mais de 50 países. Esse boletim anual tem sido divulgado desde 2005.



Jarraud disse que o aumento das emissões nos últimos anos mostra a ineficácia do atual tratado climático global, o Protocolo de Kyoto, aprovado em 1997. "Mas, sem ele, a situação hoje seria bem pior," admitiu.

segunda-feira, novembro 16, 2009

José Dirceu: Serra está provando do seu veneno

15 de Novembro de 2009 - 1h12

Atraso em obras, falta de recursos, de planejamento... é o que dá obras programadas com fins eleitorais, sem previsão orçamentária, iniciadas sem ter recursos internos para construí-las e sem que os empréstimos internacionais estejam garantidos.

Por José Direceu, no Blog do Zé
Obras do governo José Serra (PSDB), jeito tucano de governar. Vejam nos jornais de hoje. Eles, como sempre, até suavizam nos títulos. Poupam o nome do governador, falam que SP atrasa pagamentos e reduz ritmo de obras em estradas, mas você lê e descobre que são nada menos que 1.200 nessa situação — obras com ritmo de implantação reduzido ou paralisadas.

Segundo o Sindicato da Construção Pesada (Sinicesp), entre os programas prejudicados por essa falta de dinheiro está o Pró-Vicinais, a recuperação de 12 mil km de estradas no interior do Estado — iniciado em dezembro de 2007 — e que é a menina dos olhos, vitrine da campanha presidenciável de Serra para o Planalto em 2010.

O atraso no pagamento é de três meses e soma cerca de R$ 500 milhões revela o presidente do sindicato, Marlus Renato Dall'Stella. Mas o estado diz que é dois meses e metade desse dinheiro — R$ 250 milhões.

O secretário dos Transportes do governo José Serra, Mauro Arce, apresenta desculpas fracas que não justificam o que está ocorrendo: houve atraso nos repasses ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER), porque não entraram no caixa R$ 700 milhões da concessão de rodovias e só agora o Estado recebeu 1/4 — R$ 600 milhões — dos empréstimos pleiteados junto ao BID e ao BIRD.

A suspensão ou paralisação de obras por falta de pagamento pelo atingiu proporções tão graves que o Sinicesp, representante das principais empreiteiras do país, marcou uma reunião para 2ª feira (16.11) para discutir a situação. O Sindicato admite adotar "medidas administrativas e judiciais" para suspender os contratos em atraso com o DER mas, pior: fala em "demissão em massa", e diz que já houve cortes.

E o sindicalista Wilmar dos Santos afirma que, nos últimos cinco meses, já houve cerca de 5 mil demissões acima do esperado para o período. "Tentamos falar com o governo, mas não conseguimos", diz Wilmar aos jornais.

Oposição sem rumo

O governo federal queima dinheiro com gastos improdutivos, investe pouco, incha a máquina pública, loteia o setor elétrico e atrapalha-se todo na hora de explicar um apagão em 18 Estados, mas a oposição silencia diante da maior parte dos erros, é tímida na hora do confronto e seu provável candidato em 2010, o governador José Serra, parece gostar mesmo é de criticar a política de juros do Banco Central (BC). Tudo isso é visível para quem acompanha o dia a dia da economia e das principais decisões do governo, mas o economista Rogério Furquim Werneck, da PUC-Rio, vai um passo além e faz uma advertência: para não serem vistos como anti-Lula, os oposicionistas ficam sem discurso e arriscam-se a entrar sem bandeira, ou com uma bandeira muito descorada, na disputa eleitoral.

Eleição à parte, o comportamento desses políticos chama a atenção também por outra peculiaridade. Ao concentrar as críticas na política monetária, o governador José Serra e alguns de seus companheiros escolhem o alvo errado. Em primeiro lugar, cometem uma injustiça. O BC é o único setor da administração federal com uma boa folha de serviços prestados nos últimos sete anos. Se a inflação se manteve controlada nesse período, foi por causa da manutenção de dois pilares da política econômica, o sistema de metas de inflação e o regime de câmbio flutuante.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem diploma de economista, mas entendeu perfeitamente esse fato. Sua reeleição foi muito facilitada pelo êxito da política anti-inflacionária. Sem isso, a redução da pobreza e da desigualdade teria sido muito mais difícil. O salário real teria subido menos - ou não teria subido - e os programas de transferência de renda teriam sido minados pela alta de preços. Alvo preferencial também de uma parte dos petistas, dos aliados de Lula e de alguns membros do governo, o presidente do BC, Henrique Meirelles, foi no entanto preservado. Nenhum de seus antecessores durou tanto no cargo. O presidente Lula não escolheu esse caminho só para agradar ao mercado financeiro.

O terceiro pilar da política econômica foi razoavelmente preservado no primeiro mandato do presidente Lula, mas vem sendo submetido a uma erosão cada vez mais perigosa. As tentativas cada vez mais evidentes de maquiar as contas, por meio de ajustes na meta fiscal, não permitem nenhuma dúvida. Se o governo tivesse agido com alguma parcimônia, contendo o desperdício, teria terminado o ano em condições financeiras muito melhores, apesar da crise e dos incentivos concedidos para o combate à recessão.

O desperdício continuará no próximo ano, porque o empreguismo, o aparelhamento e as bondades concedidas com dinheiro público vão continuar e servirão a propósitos eleitorais, mas nada disso parece impressionar a oposição. O governo conseguirá, sem a mínima dificuldade, a aprovação de um orçamento segundo as suas conveniências. Continuará queimando dinheiro, deixará de investir por incompetência, não por falta de verbas, e porá a culpa no Tribunal de Contas da União.

Em segundo lugar, a oposição erra na escolha do alvo porque a bem-sucedida atuação do BC é uma continuação de políticas adotadas a partir de 1999. Essas políticas deram certo logo depois de adotadas, continuaram garantindo uma razoável estabilidade de preços e têm contribuído para facilitar o planejamento das empresas. Além do mais, o BC foi muito mais ágil que o Ministério da Fazenda, nas primeiras ações de combate à crise, no ano passado. Sem essa intervenção, as condições de financiamento teriam sido muito piores, bancos pequenos e médios teriam corrido riscos muito maiores e a situação cambial poderia ter-se deteriorado muito mais perigosamente.

Em resumo, a oposição combateu algumas das melhores ações econômicas dos últimos sete anos e silenciou diante das mais desastrosas. Foi incapaz de defender algumas das mudanças mais importantes do governo anterior, como a Lei de Responsabilidade Fiscal e a bem-sucedida privatização de empresas com atividades típicas de mercado, como a mineração, a produção de aço e a fabricação de aviões. Os oposicionistas ficaram quietos quando o presidente Lula tentou intervir na gestão de algumas dessas companhias, assim como têm ficado passivos diante das perigosas mudanças embutidas nos projetos de lei do pré-sal. Se essa é a sua orientação, que mensagem terão para o eleitorado?


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091116/not_imp466956,0.php
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terça-feira, novembro 10, 2009

Transito: um problema global
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2009/11/08/cidades,i=153387/MOTORISTAS+SOFREM+COM+O+INCHACO+DA+FROTA.shtml
Como solucionar?
O problema do trânsito não tem solução mesmo: se todos decidissem utilizar transporte coletivo, ele entraria em colapso. Alargar suficiente as ruas e avenidas, além de inviável do ponto de vista de planejamento urbano, seria apenas um paliativo; mais cedo ou mais tarde o volume de carros alcançaria novamente o limite. E transitar não é uma opção, é uma necessidade.
Em BH realizam-se cerca de 4,2 milhoes de deslocamentos por dia, nao só de carro e ônibus, é claro, mas principalmente assim. O Detran-MG emplaca em média 500 veículos por dia. A frota da capital atingiu, em 2007, o marco de um milhão de veículos, e cresce de 4% a 7% ao ano desde 1999.
A região sul de BH (falo dela porque é onde vejo todos os dias, certamente não é só aqui) passa recentemente por intensas mudanças de uso de solo. Sion, Belvedere, Seis Pistas, Vale do Sereno e Vila da Serra vêem prédios novos surgirem assustadoramente, ocupando lotes onde antes havia casas ou... ou nada mesmo. Interessante como se acha que as vias vão suportar todo esse contingente circulando.
De http://fernandobrina.blogspot.com/2009/05/mais-do-mesmo.html

segunda-feira, novembro 09, 2009

Muro de Berlim








domingo, novembro 08, 2009

J.R. Guzzo - fim do mundo

Em dezembro nós teremos o encontro sobre o clima na dinamarca (certo?). Até que ponto o aquecimento global é uma verdade inquestionável - como uma prioridade mundial? Até que ponto os políticos tiram vantagem da situação? Estão na mesma onda a mídia e a sociedade civil no geral.


Sábado, Novembro 07, 2009

J. R. Guzzo- Fim do mundo
VEJA
"Antes de ter um problema ecológico, o Brasil tem um problema sanitário; nossa verdadeira tragédia ambiental é o fato de que 50% da população não dispõe de rede de esgotos"
Estaria o mundo de hoje, e o Brasil junto com ele, se comprometendo com o que pode vir a ser a mais cara, obsessiva e mal informada ilusão científica da história? A humanidade já esteve convencida de que a Terra era plana, e que era possível prever matematicamente a extinção da vida humana por falta física de comida, já que a população cresceria sempre de forma geométrica e a produção de alimentos jamais poderia aumentar no mesmo ritmo; mais recentemente, grandes empresas, governos e ases da ciência digital acreditaram que o "bug do milênio" iria paralisar o mundo na passagem de 1999 para 2000. Não se pode dizer que a crescente convicção de que o planeta sofre hoje uma "ameaça sem precedentes" em toda a sua existência, como resultado direto da "mudança do clima", e particularmente do "aquecimento global", seja exatamente a mesma coisa. Mas às vésperas da abertura da grande conferência da ONU sobre o tema, que reunirá em Copenhague, agora em dezembro, 170 países e cerca de 8 000 cérebros, parece conveniente tentar estabelecer algum tipo de separação entre o que possam ser problemas reais e o que é uma espécie de culto psicótico ao fim do mundo. Previsivelmente, trata-se de tarefa com poucas chances de sucesso.
Há, em primeiro lugar, uma atitude cada vez mais ampla e cada vez mais agressiva estabelecendo que as pessoas têm, obrigatoriamente, de acreditar que o clima está mudando para pior e que a catástrofe é uma perspectiva não apenas indiscutível como iminente; dúvidas não são permitidas. Sair da reunião de Copenhague sem uma solução definitiva para o aquecimento global e as emissões mundiais de carbono "não é uma opção", pregam os organizadores da reunião e um chefe de estado depois do outro; é indispensável achar uma saída, e já, embora não se saiba qual. A ideia geral, em suma, é que o cidadão, ao sair de casa um dia desses, pode sofrer um ataque do efeito estufa e cair morto no meio da rua. A essa insistência em criar uma unanimidade de pensamento se acrescenta uma extensa mistura de mistificação, desinformação, pseudociência, demagogia, charlatanismo, fatos sem confirmação e números cuja veracidade não pode ser certificada. De maneira sistemática, fotos de terra rachada pela seca, que o Nordeste do Brasil conhece desde o tempo de dom Pedro II, são apresentadas como prova do aquecimento do planeta. O culpado final por tudo é o "consumo".
Políticos, governos e organizações internacionais, em vez de colocarem mais racionalidade no debate, contribuem ativamente para esse impulso crescente de autoflagelação. Um ano atrás, para ficar num exemplo só, a Inglaterra aprovou uma lei pela qual o país terá de cortar em 80% as suas emissões de carbono até o ano de 2050; ninguém faz a menor ideia de como isso vai se passar na prática. (De certo, nesse caso de combate extremado ao aquecimento global, houve o fato de que estava nevando no exato momento em que o Parlamento votava a lei - a primeira vez que nevou em Londres, num mês de outubro, nos últimos 74 anos.) Globalmente, verbas cada vez mais prodigiosas são anunciadas para salvar o planeta: 100 bilhões de dólares por ano em 2020, segundo cálculos de economistas que estarão presentes em Copenhague, ou até 1 trilhão - diferença muito reveladora da seriedade dessas contas todas. A maior parte desse dinheiro, segundo os discursos, deverá ser empregada para ajudar os países pobres a participar do combate ambiental e para que Brasil, Índia ou China sejam compensados das despesas que terão para deixar de ameaçar o mundo com o seu desenvolvimento.
A conferência de Copenhague tende a refletir, basicamente, um conjunto de neuroses, fantasias e necessidades políticas que se ligam muito mais aos países ricos do que à realidade brasileira; a agenda central é deles, com seus números, seus cientistas e até sua linguagem. O Brasil, em vez de reagir ao debate dos outros, faria melhor pensando primeiro em seus interesses. Para isso, precisaria saber o que quer. Parece bem claro que o país, antes de ter um problema ecológico, tem um problema sanitário; nossa verdadeira tragédia ambiental é o fato de que 50% da população não dispõe de rede de esgotos, ou de que dois terços dos esgotos são lançados nos rios sem tratamento nenhum. Na Amazônia, onde há o maior volume de água doce do mundo, a maioria da população não tem água decente para beber. Nas áreas pobres das cidades o lixo não é coletado - acaba em rios, represas ou na rua.
A questão ecológica real, no Brasil, chama-se pobreza.
Do Orkut, dia 05 de Nov:

Bilman
"Aécio!!!!
http://blogdojuca.blog.uol.com.br/
Isso é imprensa?"


pedro
"ai tem aquela velha discussão entre liberdade de imprensa x privacidade....eu acho q imprensa deve ser livre, mas nao concordo com esse tipo de intromissão...Teve aquela reportagem ( que ainda por cima foi capa) da veja sobre o fábio assunção q tb foi uma palhaçada."


Joao Hernani
"estava discutindo exatamente isso com uma amiga minha, num aniversario na terça-feira.ele é reporter da radio Itatigaylo (sic), e falou que a irmã do Aécio proibiu que qualquer coisa relacionado ao assunto fosse publicado aqui em MG, e de fato isso ocorreu, so fiquei sabendo do ocorrido pela boca dela.este é um assunto interessante, pois neste exato momento acabei de enviar um e-mail de repudio ao Diário dos Associados sobre a total falta de respeito e não cobertura da despedida do Sorín.deixando as paixões clubísticas de lado, há de se reconhecer que foi um evento grandioso e que SEQUER FOI CITADO no portal UAI, no Estado de Minas ou no programa Alterosa Esporte nos dias 03 e 04 de novembro.somente houve algum destaque hoje, no dia 05, APÓS a realização do evento.tudo isso ocorreu pq o Diario Associados perdeu para a Rede Globo o direito de transmissao da partida, e nitidamente boicotaram o evento.Isso é atitude de uma empresa que se diz idonea e imparcial?bom, isso foi um exemplo do meio esportivo mas serve para todos os meios, principalmente a politica. "



Marília
Verba
Nas reuniões entre prefeituras e o governo de Aécio dizem que é muito comum o estado oferecer de uma hora para outra (no meio da reunião) verba para os municípios.Mas essa verba só é liberada caso certas exigências sejam cumpridas. E é muito difícil ter toda a documentação que ele pede na data-prazo. Raramente se consegue... Malandragem? Ou será que os prazos procedem....?





Pessoal,
essa é uma questão muito importante mesmo. A imprensa é a única maneira de ficarmos sabendo do que ocorre além da esquina de nossas casas.
Mas não criemos a imagem utópica de que ela será um dia realmente imparcial ou de que as pessoas envolvidas na produção da notícia só querem que todos fiquem melhor imformados possível. Afinal, não existe o fato: existem as versões.
Num mundo feito de política e economia, a imagem e a grana pesam bastante, e a mídia é uma maneira recorrente de investir em imagem.
Não é à toa que vários grupos empresariais enveredam para o negócio da comunicação. Haja vista, a igreja de Edir Macedo (pra cutucar o marcelão), que, para melhor pastorear as massas, resolveu comprar uma emissorazinha.
A mídia mineira é realmente tolhida pelo governo de Aécio, todos comentam. Vamos continuar batalhando, com a útopia em mente, por uma imprensa melhor.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Castração Química

Recentemente , esta se discutindo o uso da castraçao química contra os pedófilos, a fim de se evitar que o indivíduo pratique outro crime. O mais incrível, é que em alguns países ,como na Polônia, a castraçao é obrigatória . Em outros,pelo menos, o réu poderia escolher fazer ou não a castraçao, evitando ,assim, a pena - o que é discutível, pois é complicado falar em liberdade quando alguém está condenado a vários anos de cadeia.

Reportagem do Jornal Nacional :


E aqui um texto da Folha de São Paulo de 1978 sobre o Laranja Mecânica, que pode ser um bom paralelo com essa questão atual , do Estado querer condicionar os individuo a agirem de acordo com a lei :

STANLEY KUBRICK: A ARTE DA VIOLÊNCIA




Contrapondo-se à violência individual, o Estado impõe com violência seus parâmetros de normalidade. Suas instituições distinguem o aceitável do inaceitável e descem impunemente o cacete nos cidadãos que resistem ao enquadramento. Esta é a grande lição política de "A Clockwork Orange", (Laranja Mecânica), o filme de Stanley Kubrick que os europeus assistiram em 1972 porque nenhuma censura procurou na época infantilizá-los sob o pretexto de que a história seria um mau exemplo para os que sublimam uma carga de agressividade.

Anthony Burgess, que publicou há 16 anos o romance do qual se extraiu o filme, é um inglês intuitivo que beirou a genialidade a partir de uma premissa banal. Linguista, poliglota e entusiasta de James Joyce - é o autor de dois ensaios e de uma edição abreviada de "Finnegans Wake" - ele procurou forjar para seus personagens uma linguagem bem particular, recheada de neologismo. Mas o que não passaria de um bom recurso literário acabou fornecendo à "Laranja Mecânica" um dos eixos básicos para sua leitura política. E isso porque os personagens - situados um pouco antes do ano 2000 - exprimem-se num inglês misturado a sons e a palavras russas. Sintetiza-se uma aproximação entre a violência estatal das superpotências. Pouco importa se apenas uma delas, a União Soviética, possui seus dissidentes oficiais e seus asilos psiquiátricos. Esse tipo de repressão, denunciado publicamente bem depois da publicação do livro de Burgess, é comum a todo Estado que atua segundo o dogma dos detentores de um saber: o que é bom e o que é mau.

Alex, o personagem central encontra-se com outros marginais de seu bando numa cafeteria futurista chamada "Korovo Milkbar", onde se toma um leite vitaminado chamado Moloko, que jorra pelos seios de uma enorme e sensual boneca. Para qualificar as coisas que lhe aprazem, ele usa a palavra "Horroshow", em inglês quer dizer espetáculo de horror. Mas em russo a palavra "Horosh" significa excelente, perfeito. São pequenas ambiguidades semânticas que determinam um enfoque moral meio ambiguo do banditismo praticado.

Malcon Macdowell, interpretando o papel de Alex, é uma espécie de trombadinha da "science-fiction". Rouba, é capaz de linchar suas vitimas pelo prazer de vê-las sofrer, e não tem nada de um marginal que apela para a violência a fim de obter dinheiro. A sociedade em que vive se define pela opulência. Ele próprio dispõe de um fantástico equipamento de som para se deliciar com a Nona Sinfonia de seu compositor predileto, Ludwig Van. É de Beethoven que se trata, embora a partitura tenha sofrido uma adaptação meio cafona, em que vozes e instrumentos da orquestra foram substituídos pelos sons de um sintetizador eletrônico.

Pois bem, Alex é traído por seus companheiros de noitada e cai em mãos da polícia. Transforma-se no detento 6655321 de uma prisão estatal chamada Prita 84-F. Um belo dia, um psicólogo chamado dr. Branom propõe que, em troca de uma libertação antecipada, ele se submeta ao "Método Ludovico", destinado a curá-lo da violência.

O método seria um recurso narrativo cômico se não caricaturasse com tanta perfeição teorias cientificas consagradas. Trata-se do mais puro behaviorismo, que consiste em "condicionar" o paciente a rejeitar todo comportamento "anormal". Alex é colocado num palco onde se obrigam a assistir filminhos com cenas de violência inegável. Mas antes dessas sessões cinematográficas, injetam-lhe um medicamento que lhe provoca insuportável náusea. Associando as cenas ao mal-estar físico, ele neutraliza sua agressividade natural e se transforma num "cidadão modelo".

Ora, o "Método Ludovico" representa no filme de Kubrick toda uma teoria pela qual se define a ciência oficial. Ou seja, a verdade. O ideal do Estado é ter sob seu comando cidadãos que não contestem uma paz estabelecida. O marginal Alex é de certa maneira um subversivo. Ao aceitar o conceito de normalidade que lhe impõem durante o tratamento, ele não tem apenas aniquilado seu potencial de marginalismo. E sobretudo, um conformismo social que se manifesta.

A coisa é extremamente sutil. Se o público não concorda moralmente com a violência gratuita de Alex, o desenrolar do filme leva o mesmo público a descobrir que o cidadão pacífico torna-se sinônimo de indivíduo destruído.

É por isso que a dupla Burgess-Kubrick não construiu, com a Laranja Mecânica, uma simples apologia às violências, conforme a interpretação dos simplistas e reacionários. Há nessa postura uma enorme hipocrisia. Do faroeste ao "chefão", e do policial inglês da década de 40, aos seriados produzidos para a TV, a violência física já se incorporou aos ingredientes cinematográficos para que possa constituir um mau exemplo que o espectador se disporia imediatamente a imitar.

Não é nada disso. O que Kubrick demonstra é que os marginais e as instituições do Estado (sobretudo quando elas empunham o bastão da "ciência") praticam uma violência idêntica.

Bem após o sucesso comercial de "Laranja Mecânica", um outro filme levantou genialmente o problema, e chegou inclusive a ganhar um Oscar. Foi "The Flight Over The Cou-Cou Nest" ("Um Estranho no Ninho", no Brasil), de Milos Forman. É claro que, desta vez, o paciente de um asilo psiquiátrico mostrava-se com menor ambiguidade e o público ficava a seu lado a partir das primeiras cenas. Ele era vítima do sistema, como se diz, do começo ao fim. Mas entre Forman e Kubrick há a proposta semelhante de não permitir que os qualificativos retrógrados e de simplismo moralista sejam aplicados apenas aos indivíduos que se considera "anormais". É preciso igualmente, interrogar a ideologia que se esconde por detrás da definição desses parâmetros de normalidade.

terça-feira, novembro 03, 2009

Último ditador argentino é julgado

Último ditador argentino é julgado por crimes contra direitos humanos

Em Buenos Aires (Argentina)
O general Reynaldo Bignone, de 81 anos, último ditador argentino entre 1982 e 1983, sentou-se nesta segunda-feira no banco dos réus de um tribunal, na abertura de um julgamento oral contra ele por crimes contra os direitos humanos, informou um funcionário da justiça.

Bignone, que cumpre prisão domiciliar, é acusado de práticas de sequestro e torturas contra 56 vítimas, ocorridos nos centros clandestinos de detenção conhecidos como 'La casita' e 'El campito' que funcionaram no quartel militar de Campo de Mayo, na periferia oeste de Buenos Aires.

O militar assumiu a presidência de fato durante a ditadura (1976-1983), em julho de 1982, na agonia do regime cívico-militar, depois de perder a guerra das Malvinas (Falklands) contra o Reino Unido.

O acusado entregou o poder em dezembro de 1983 ao falecido ex-presidente social democrata Raúl Alfonsín (1983-89), eleito nas urnas.

Em relação a este general do exército pesam ainda otras causas, uma por roubo de filhos de desaparecidos, e outra por sequestros e torturas a médicos e enfermeiros de um hospital da periferia oeste de Buenos Aires.

Pelos crimes em Campo de Mayo, junto a Bignone, estão sendo julgados cinco ex-chefes militares, entres eles os generais Fernando Verplaetsen (84) e Santiago Omar Riveros (83).

Na Argentina há 204 causas abertas por violações aos direitos humanos durante a ditadura, nas quais estão sendo julgados 526 repressores, dos quais 385 se encontram detidos, segundo um recente levantamento do Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS).

Umas 30.000 pessoas desapareceram durante a ditadura e 500 bebês nascidos durante o cativeiro de suas mães foram roubados, dos quais 97 recuperaram sua verdadeira identidade, segundo organizações de direitos humanos.

link: http://http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2009/11/02/ult34u227376.jhtm
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No Brasil, o passado ainda é bastante obscuro... Talvez seja um fator que explique o porque de ainda haver muitos relatos de torturas em prisões e quartéis do nosso país. Talvez explique isso :http://http://noticias.r7.com/rio-e-cidades/noticias/governo-de-sc-vai-investigar-agressao-dentro-de-presidio-20091103.html

segunda-feira, novembro 02, 2009

Sobre todas as teorias e pensamentos

Eleições presidenciais 2010 - Dilma consegue importante conquista

FERNANDO RODRIGUES

Massacre na TV

BRASÍLIA - Daqui a um ano, em 31 de outubro de 2010, um domingo, será realizado o segundo turno da eleição presidencial -caso nenhum candidato tenha obtido pelo menos 50% mais um dos votos válidos na primeira rodada.
Com tanto tempo pela frente, é impossível e uma irresponsabilidade prever resultados. Em todas as eleições presidenciais brasileiras recentes só havia incógnitas 12 meses antes do pleito.
Feita a ressalva, vale registrar a consolidação crescente do condomínio lulo-petista a favor de Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, vai ficando emparedada a oposição com a trinca PSDB, Democratas e PPS.
No terceiro pelotão das composições eleitorais estão as candidaturas isoladas de Ciro Gomes (PSB) e de Marina Silva (PV). Hoje, Dilma teria a seu favor PT, PMDB, PDT, PR, PRB e PC do B.
Com essa configuração, a candidatura petista ao Planalto já garante 50% a mais de tempo de rádio e de TV do que o seu opositor direto, seja ele José Serra ou Aécio Neves.
O eleitor brasileiro ainda se informa de maneira geral pela TV ou rádio. A mídia impressa é para a elite. A internet permanece em fase de crescimento. Em resumo, ter mais tempo no horário eleitoral não garante vitória a ninguém. Mas é um obstáculo grande ficar sem um espaço confortável nessa janela de comunicação direta com os cidadãos.
Esse é o ponto principal a nortear toda a estratégia de alianças comandada por Lula e pelo PT.
Em eleições anteriores, sempre algum candidato presidencial teve prevalência em relação aos demais no tempo de TV. A diferença em 2010 é que a superioridade de um dos lados tende a ser avassaladora como nunca se viu.
Nas contas do PT, Dilma Rousseff terá de 60% a 70% do horário eleitoral. É um rolo compressor, embora não se saiba como a candidata de Lula usará tanto tempo assim na frente dos brasileiros.

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E se trata mesmo de uma conquista importante , se pensarmos que vivemos em um país onde a televisão é o principal formador de opinião.

Nova lei sobre as drogas pode ir para o congresso ainda este ano...

http://terratv.terra.com.br/Noticias/Brasil/4194-253606/Deputado-do-PT-quer-legalizar-o-uso-da-maconha.htm
Eu só acho esse discurso às vezes meio simplista...aliás, eu ainda não vejo um discurso de direita (econômica), liberal, no brasil. Psdb é social democracia...esse discurso da eficiência é apenas uma jogada de marketing dos líderes que mal mal sabem e propõe alguma coisa. Sabemos que boas intenções todos nós temos...a questão é sempre como fazer, como administrar, etc. francamente, nao acho que esses médicos (alckimim) e sociólogos saibam realmente o que fazer. Discursos comprados são fáceis, mas o alckimim não conseguiu nem mesmo defender as privatizações nas últimas eleições. O Lula mesmo, por outro lado, até propôs a constituinte no início do ano para reformar os sistema político, mas ninguém fez nada. Se ele se omitiu em problemas estruturais, é também verdade que ele não é o culpado pelas coisas serem como são.

Para onde vamos?

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091101/not_imp459542,0.php

Para onde vamos?


Fernando Henrique Cardoso

A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio "talvez" porque alguns estão de tal modo inebriados com "o maior espetáculo da Terra", de riqueza fácil que beneficia poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?

Só que cada pequena transgressão, cada desvio vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advém do nosso príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o País, devagarzinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade que pouco têm que ver com nossos ideais democráticos.
É possível escolher ao acaso os exemplos de "pequenos assassinatos". Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal-ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira "nacionalista", pois, se o sistema atual, de concessões, fosse "entreguista", deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública. Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares, se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental numa companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem nenhum pudor, passear pelo Brasil à custa do Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso...) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos?

Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do "autoritarismo popular" vai minando o espírito da democracia constitucional. Esta supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer, obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o." Em pauta temos a Transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no Orçamento e mínguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo Tribunal de Contas da União. Não importa, no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: "Minha Casa, Minha Vida"; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos.

Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo "Brasil potência". Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU - contra a letra expressa da Constituição - vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil. Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que se tenha esquecido de acrescentar: "L"État c"est moi." Mas não se esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender o "nosso pré-sal". Está bem, tudo muito lógico.

Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados. Foi no "dedaço" que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são "estrelas novas". Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam.

Ora, dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil os fundos de pensão não são apenas acionistas - com a liberdade de vender e comprar em bolsas -, mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo, antes que seja tarde.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República

terça-feira, outubro 13, 2009

Manifesto da Força Popular

Este é o texto inicial da FORÇA POPULAR, um movimento popular de Belo Horizonte, aberto às mais diversas opiniões.


"Liberdade" e "vontade" - Qualquer ação, para valer alguma coisa, já dizia Lock, deve envolver essas duas palavras. Antes de tudo, a pessoa deve ser livre para decidir o que quiser, para ter consciência das coisas; então, ela poderá optar, escolher, agir ou falar. Ninguém pode defender uma ideia ou um interesse se estiver sendo obrigada a isso. Se não tivermos liberdade e vontade as ações estarão fadadas ao fracasso, mesmo que a curto prazo haja um aparente sucesso. Com elas, uma ação flui naturalmente, pois as pessoas sabem o que é bom pra elas e escolhem isso - realmente "ganham" em suas relações. Em suma, não se pode obrigar as pessoas a fazerem o que elas não querem, e tudo que for feito deve ser feito por vontade própria e independente, mesmo que disso resulte alguma vontade social.



Milhões de brasileiros revelam-se indignados com as situações negativas e mazelas do mundo ao redor, sendo o mundo político, não por acaso, alvo geral de críticas. No entanto, não existe a possibilidade de uma participação efetiva das pessoas nos processos políticos que fuja dos meios tradicionais de mídia. Nossas conspirações são mentais, individuais - nunca conseguiremos compreender a realidade social e política da nossa cidade ou bairro, quiçá do país. Como fazer para possibilitar uma atuação das pessoas de forma livre e independente? Existem diversos grupos populares, desde a associação de rua ao grupo da faculdade, que cumprem muito bem seus objetivos locais. No entanto, a sensação é de que são vários, pequenos e fragmentados, e de que sempre falta algo ou algum lugar a mais para estar. Com certeza, essa sensação não será perdida tão cedo, em qualquer nível social, pois a sociedade não suporta mais visões totalitárias sobre o mundo. A política e a possibilidade de atuação democrática do povo são vistas com descrença, o que é positivo por um lado, pois visões romantizadas dos políticos e dos coordenadores de ações e relações sociais no geral não podem perdurar se o que importa é o bem-estar de todo o povo. Qualquer ação social que se diga digna deve oferecer alguma utilidade prática a sua localidade, não se pode fazer nada verdadeiramente se apoiado no sonho doentio de alguns.


Hoje as fontes de informações são bastante desconcentradas, ou pelo menos muito mais acessíveis do que eram há algumas décadas atrás. A própria universidade, considerada tradicionalmente a “meca” do conhecimento, não pode mais ser vista como tendo o monopólio dele, apesar de ainda guardar grande credibilidade para ratificar ou não as “verdades” sociais. A explosão da internet trouxe à tona o completo derrame das informações a partir dos grupos tradicionais, de forma que não existe mais uma elite delimitada detentora das ideias, e portanto, das ações. Cabe ressaltar que um conhecimento generalizado é também específicos em suas propostas, e, portanto, não é tão generalizado assim.


Nosso objetivo não é formar um grupo particular, restrito, mas um grupo com a maior diversidade possível, de modo a abrir um espaço livre, irrestriro e gratuito para as livres opiniões. Além disso, procuramos uma forma mais fácil de interação que ajude de fato a todos. Não nos sentimos donos de qualquer verdade. Iremos nos pautar no senso de convivência próprio de quem está de alma tranquila. Também não queremos fingir termos uma importância que não temos, apenas discutir falar ideias para serem pensadas com calma . Gostaríamos de ser uma força paralela, investigativa e questionadora dos três poderes e da sociedade no geral, que não ignore a realidade e apenas dessa forma possa ter alguma relevância. O essencial é que as conversas propiciem a nós, participantes, inspirações da melhor qualidade.







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quarta-feira, setembro 23, 2009

Sob a bandeira do Brasil


quinta-feira, setembro 17, 2009