terça-feira, junho 18, 2013

O OUTONO brasileiro



  O povo brasileito está em massa nas ruas, coisa que há muito tempo não se via. Começam a aparecer teorias as mais diversas sobre o "tipo" brasileiro e sua luta solitária por melhores condições de vida. O roteiro parecia já estar estabelecido e acordado com todos os atores, a não ser, é claro, com os russos, no caso nós, os brasileiros. Para nós mesmo, é estranho que tamanha indiginação tenha surgido com força no momento em que a festa começa e os convidados começam a chegar. A alegria do futebol (vá lá que está difícil empolgar com essa seleção) não está sendo suficiente para aplacar os ânimos dos trabalhadores e da gente sofrida que, mesmo pela televisão, se comovem ao ver o protesto das passagens. De certa forma, o feitiço virou contra o feiticeiro: estava claro que essa época da copa seria nada mais que uma época de gastança e roubalheira dos políticos, que aproveitaria o silêncio da mídia e a distração das massas para superfaturar. O brasileiro deu um basta a isso: está claro que trocaríamos todo o futebol e todas as copas por uma educação e saúde descente, enfim, por um país mais digno em toda sua enorme dimensão.


   O período de bonança dos políticos acabou. Tanto o PT quanto o PSDB se sentem na corda bamba.  Está claro que esse movimento das ruas não apoia um partido ou outro, o problema é a falta de democracia. A falta de oposição, no entanto, não é mais suficiente para o governo se tranquilizar, pois a insatisfação popular se faz ouvir de forma direta, sem intermediários.


   O que mais se destacou nos movimentos de protesto que ocorreram ao redor do mundo, nas sombras da crise econômica de 2008, foi a espontaneidade das manifestações, na maioria das vezes organizadas na internet. No mundo árabe, as manifestações levaram a queda de ditadores e a um longo e complicado processo de democratização, mas tal fenônomeno se espalhou também para as democracias ocidentais, cujos políticos tiveram que ouvir o urro de insatisfação generalizada das ruas, e embora as repercussões políticas foram menores do que ocorreu no oriente.


   No ocidente, o protesto foi puxado por grupos minoritários na Europa, ou através de ideias gerais e de fácil aceitação, como o ocuppy wall street nos Estados Unidos, que obteve boa repercussão junto à população devido a divulgação dos grandes bônus dos mesmos grandes executivos que levaram à crise de 2008. 
    Enquanto isso, o Brasil e nossos políticos pareciam passar incólumes por essa onda mundial que demonstrava enfim uma crise de representatividade da própria democracia. Nossa economia estava em ótimo momento relativamente, guiada pelo consumo interno, cuja porção dos mais pobres continuava a crescer de forma aluscinante. O que parecia ter sido um remédio acabou quase matando o paciente no entanto. A intervenção do governo na economia começou a atingir níveis também alucinantes, derrubando medidas que garantiria a isonomia das obras e das fiscalização, derespeitando a independência dos poderes e das instituições. A própria imparcialidade e a igualdade de oportunidades é um preceito da democracia e de suas instituições, que começaram a ruir a partir das obras da copa e dos incentivos e proteções locais. O aviso foi claro: aos políticos e empresários que quisessem ganhar dinheiro, o melhor a fazer era se aproximar do governo e tentar tirar uma casquinha. Ao resto do povo, que se cuidasse e se protegesse, pois a inflação estava alta. Agora vemos que muita gente não se cuidou e está pagando o pato.. O governo Dilma até ilustrou um ajuste no início do mandato, mas depois a coisa degringolou de vez, e pior do que antes, pois a despeito de uma melhora na gestão (que não ocorreu), perdemos um presidente que exercia uma liderança social incrível.


     O Brasil vai bem, mas piorou. Ainda temos esperanças, mas os problemas antigos mostraram uma força e uma ameaça latente. E o brasileiro, apesar do carnaval, apesar do futebol, do samba e da cerveja, trabalha feito um cachorro e ganha mal, vive mal e anda mal em cidades fedidas. Enquanto isso, nas cidades da FIFA, como se chama o perímetro intransponível nos estornos dos estádios, vende-se uma imagem de cidade perfeita e meticulosamente planejada.


       A internet também não é um lugar de plena liberdade, de mais a mais, os efeitos de uma teclada nem sempre são fortes o bastante para ganhar as ruas - mas voce não corre risco de vida ao transitar por ela. O espaço virtual é elástico, o que permite às pessoas criarem seus próprios guetos virtuais, onde elas se sentem mais à vontade. Mais do que isso, as redes sociais dão às pessoas uma sensação de poder e controle que fogem das instituições convencionais de governo e de mídia, apesar de que, novamente, essas redes são na verdade empresas que sofrem interferências dos meios tradicionais. Ao mesmo tempo em que aumenta a enxurrada de informações, o internauta aos poucos acustuma-se com o novo terreno.


       Diferentes visões naturalmente coexistem e a vontade política surge naturalmente. Não se trata de um discurso pronto e direcionado contra os meios tradicionais, mas a uma sensação de que a vida real independe do governo (ou mesmo do PIB oficial), e de que existe uma longa separação entre o povo e seus representandos. O que as pessoas procuram na internet e não encontram - uma resposta  do governo e das instituições para suas situações e demandas particulares, acaba se tornando uma voz única de insatisfação que representa a diferença entre o tempo da informação e o tempo das mudanças, que são naturalmente lentas em uma democracia.


       Existe uma sensação de que esses movimentos não param por aqui e que voltarão a repercutir mais tarde. Ao mesmo tempo, o sintoma não reduz o problema, no sentido de que o problema da (falta de) representatividade é global e não parece ter sido devidamente solucionado nos países que já passaram por esses protestos. No Brasil, resta a essa esperança que os políticos acordem, que o governo faça rápido algumas obras melhores e mais úteis para a copa e que a oposição perceba que está longe de ter a oposição das ruas nas mãos. Daí quem sabe nós teremos alguma novidade nesse clima que estávamos de desânimo com a copa e com nossa economia, sem falar de nossos queridos políticos.



(Esse texto reflete apenas a opinião do autor)



2 comentários:

  1. Caros Sr(s),

    O prefeito insiste na tese de que o valor necessita ser cobrado com ou sem subsidios, mas não mostra as planilhas de custos e lucros das companhias , e este é o ponto , devemos buscar esta informação e vamos encontrar o que esta errado e desmontar esta mentira do custo !!!

    Raul

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  2. Raul, concordo com voce no sentido que a solução para o problema passa pelo aumento da competição e da transparência no setor

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