sexta-feira, janeiro 15, 2010

Quem está à esquerda de quem?

Os tropeços do PDSB mais que compensam as trapalhadas do PT. Realmente, é impossível termos um partido no Brasil que se autodenomine de direita, especialmente porque, durante a ditadura, que deixou marcas, os "intelectuais" chamavam de direitistas aqueles que eram pró-ditadura, assim como os militares associavam os esquerdistas a, não só comunistas, mas a vândalos, marginais e terroristas. Obviamente, o termo está em desuso e sem apelo em todo o mundo, especialmente agora depois da crise. Obviamente também, os conceitos não retratam exatamente a realidade. No caso do Brasil, eu acho uma tristeza não termos um partido ou grupo político que defenda uma visão mais liberal do estado, com menos interferências na economia e na vida privada. Se alguém abriu um video do "entre aspas" do G1 que eu mandei, viram um economista dizendo justamente que não existe no Brasil nenhum grupo político que consiga fazer um link entre, por exemplo, a corrupção e os altos impostos pagos. Não existe alguém que diga: "Olha gente, a corrupção tem um efeito prático nas nossas vidas. Vocês estão dispostos a pagar esse custo, essa inefiência? Ou seja, voces querem pagar menos impostos, pagar menos pela corrupção?" Sem esse tratamento, o discurso da ineficiência perde qualquer sentido político e eleitoral, pois as pessoas não vem uma relação entre problemas como esses e seus bolsos.
A minha decepção é ainda maior com o PSDB, porque eu acho que este seria o partido que teria maiores condições de implementar esse discurso. Acho que eles deveriam fazer um compromisso de manter as políticas sociais, mas sem comprometer o discurso da estabilidade fiscal e monetária que eles próprios iniciaram no governo FHC. Por outro lado, o PT (leia-se Lula) começou com o discurso anti-esquerdista e passou a pelo menos em parte ouvir os apelos pró-mercado e pró-liberalismo, mais do que antes pelo menos. Juntando ambos os discursos de forma hipócrita e oportunista, Lula transformou-se no mito a que se refere o Eugenio Bucci em recente artigo no Estadão. Eu me lembro em 2002, quando o Lula ganhou, eu estava na Av. Afonso Pena, junto com uma multidão, e em um telão imenso apareceu o o Lula respondendo a uma pergunta no Fantástico sobre qual seria a reação do mercado a sua vitória. Ele disse algo simples como: "O mercado tem que entender que o povo brasileiro passa fome e precisa comer". O povão foi ao delírio, lógico. Os primeiros meses de 2003 mostraram no entanto que o pt do Lula não estava disposto a enfrentar o mercado, não na eminência de uma crise.
É verdade que o governo do FHC foi muito melhor que o pensamento médio dos militantes do PSDB, e o do Lula em relação ao PT nem precisa dizer.... A grande força do Lula acho que vem daí: mantém políticas relativamentes austeras, e mantém sob controle ampla parcela dos radicais de movimentos sociais e etc. A questão é que se o PSDB for adotar um discurso mais social, também não pode abandonar o discurso da eficiência e da boa gestão - a grande questão é fazer o link entre o discurso da eficiência e da responsabilidade social, coisa que o Lula, mesmo roubando sistematicamente parte do discurso do PSDB, não consegue. Dar bolsa-família ou criar programas habitacionais são meros paliativos - o que irá realmente reduzir a pobreza no Brasil para níveis razoáveis é abaixar os impostos, que são extremamente regressivos no Brasil. Se o povão ficasse sabendo o tanto que eles pagam em impostos quando compram alimentos e materiais de contrução, será mesmo que eles não iriam aderir a um discurso de menor tributação? O problema é que no Brasil a maioria nem sabe o quanto está pagando em impostos embutidos nos preços...
Concluindo, eu acho que a única solução para o PSDB reverter a situação, pois acredito que a vantagem atual é mesmo da Dilma, seria, de uma forma totalmente inesperada, defender com vontade, no que deve ser defendido, o governo do FHC. Não é necessário demonizar o Lula: é só fazer uma propaganda mostrando como o Brasil melhorou nos últimos 16 anos, e que tal processo começou com o FHC, sendo aperfeiçoado pelo Lula. Essa vergonha dos tucanos em relação ao governo FHC é uma lástima, pois deixa o partido totalmente na defensiva.

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